Yacunã Tuxá. Foto: Divulgação

O Projeto MURAL (Movimento Urbano de Arte Livre) — que já promoveu um festival, com exposições, painéis e debates neste ano, no Doca1 — contará pela primeira vez com a participação de uma artista indígena: Yacunã Tuxá. Ela passa a integrar o time de talentos selecionados para transformar paredes gigantes de Salvador, em verdadeiras galerias a céu aberto, com obras de arte. Natural da aldeia Tuxá, no norte da Bahia, Yacunã é reconhecida por suas criações que conectam elementos da ancestralidade indígena com linguagens contemporâneas, trazendo visibilidade à luta e à cultura dos povos originários. Esse será o maior mural artístico da capital baiana, com 52m de altura, e ficará localizado em um prédio residencial perto do Orixás Center.

“Participar do Projeto Mural é uma oportunidade de mostrar a força da arte de uma mulher indígena, lésbica, ocupando novos espaços, mantendo viva a nossa história e tradição. O que proponho é o reconhecimento da força dos povos indígenas das comunidades, a sua relevância e luta. Somos plurais, falantes de muitas línguas, vindos de muitas partes. Salvador teve em sua fundação o nosso sangue e suor – mas hoje essa cidade abarca a nossa presença real e viva – transformadora. Esse mural é demarcação da nossa presença, dos nossos saberes, jeito de ser, comer e beber, da nossa música, da nossa força e cura, da nossa arte e intelectualidade. Somos sementes dessa terra”, afirma a artista.

O mural da artista, batizado de “Somos Sementes”, traz como objetivo a demarcação visual, a presença e a relevância dos povos indígenas, não apenas na cidade de Salvador, mas na contemporaneidade, no enfrentamento da crise climática e os seus desdobramentos. A obra propõe um país mais plural, ético e justo com os povos da terra – indígenas, ribeirinhos, quilombolas, entre outros – e com a própria natureza. O mural vai retratar elementos que constroem visualmente a ideia de força, afeto e continuidade. Ao centro, a mulher indígena com brincos de olhos de Guaraná, com a cabeça coberta por folhas e no peito um grafismo do Povo Tuxá, que marca a presença deles nas ilhas do Rio São Francisco.

“A mulher mãe com a criança de colo constrói a ideia de afeto e continuidade. A casa que carrega na cabeça é para simbolizar algo simples para nós: quando migramos, caminhamos, nos movemos – levamos a nossa casa conosco. Para nós, indígenas, a aldeia viva não sai de nós. Essa mulher de olhos fortes não é uma ancestral ou pessoa específica e, por isso, pode ser qualquer uma, pode se conectar com muitas mulheres indígenas ancestrais e vivas”, conclui Yacunã.

Yacunã Tuxá. Foto: Divulgação

Receba também as atualizações do Anota Bahia no: ThreadsGoogle NotíciasTwitterFacebook,  InstagramLinkedIn e Spotify