Montagem

O carnaval acabou e a política nunca esteve tão presente. Tudo começou pela nova postura da Polícia Militar nos circuitos da folia. A ordem do governador Rui Costa (PT) foi para que os militares observassem à distância, “porque a tendência de ter ocorrências de machucar alguém tende a diminuir”. A decisão foi acompanhada pelo Comandante Geral Anselmo Brandão, segundo ele atendendo a uma solicitação de artistas.

O resultado não poderia ser diferente. Onde o Estado é omisso, a marginalidade toma conta. Os circuitos viraram palco para cenas horrendas. E só não foi pior porque os acessos estavam bem controlados e a partir do sábado foram notórias a presença e a postura mais enérgica dos policiais. Nesse mesmo dia, inclusive, uma equipe da Polícia Civil foi ovacionada ao prender um grupo que estava roubando e agredindo foliões no Circuito Dodô.

Apesar de não reconhecer que errou na estratégia, ter voltado atrás já foi um grande gesto em prol da segurança das milhões de pessoas que curtiram o carnaval. Não desconsiderando a opinião dos artistas que sugeriram a tal postura de observação, mas eles não são especialistas da área. O que se deve discutir nesse sentido são os excessos. E só. No mais, a PM-BA é referência em eventos de grande massa, como o carnaval.

Quando a ordem parecia reestabelecida, a segunda-feira foi de mais polêmica. No Circuito Osmar, o deputado federal e cantor Igor Kannário (DEM) não perdeu a chance de mais uma vez criticar a PM-BA. Dessa vez chamou policiais de “agressores” e “bunda mole”. O parlamentar chegou ainda a responsabilizar a PM-BA caso aconteça algo contra ele. “Se acontecer alguma coisa comigo, quem mandou me matar foi alguém da polícia militar”, disse o cantor.

Não fosse o privilégio da imunidade parlamentar, Igor Kannário poderia ter sido preso ali mesmo por desacato e incitação à violência. Acontece que deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e voto, e não poderão ser presos, salvo em flagrante de crimes inafiançáveis. Não foi o caso. O fato é que a fala de Kannário provou reações de todos os lados e o deputado precisará de um guarda-chuva jurídico, pois a previsão é de uma enxurrada de processos.

Reação imediata – A Procuradoria Geral do Estado representou uma ação no Ministério Público baiano contra o cantor e deputado federal Igor Kannário. A PGE pediu que o MP-BA o acione penalmente pelos crimes de calúnia e difamação.

Reprovação… – Aliados de Igor Kannário também reprovaram a sua fala. O prefeito ACM Neto (DEM) disse que o cantor foi “infeliz nas declarações dele” e reforçou que “nenhum tipo de declaração que possa ser agressiva à polícia contará com meu apoio”. Já o vice-prefeito Bruno Reis (DEM) disse que “o artista tem que ajudar a polícia, um trabalho de parceria” e que não apoia iniciativas como a de Kannário.

…sem ação – Por outro lado, o prefeito ACM Neto, que é presidente nacional do Democratas, disse que não haverá punição partidária pelo ocorrido. Politicamente, o fato é uma faca de dois gumes. De um lado agrada os eleitores que se sentem representados na fala de Kannário, mas do outro desagrada quem apoia as ações da Polícia Militar.

Aparição – Quem não perdeu a oportunidade para testar a popularidade e fazer um corpo a corpo no carnaval foi o deputado federal e pré-candidato a prefeito, Pastor Sargento Isidório (Avante). Foi flagrado na folia com dezenas de pessoas carregando estandartes com mensagens de evangelização e combate as drogas.

Cassação – Deputados militares e evangélicos devem abrir uma ação no Conselho de Ética para pedir a cassação do mandato do deputado Igor Kannário, por quebra de decoro parlamentar. Enquanto o Casa não retoma as atividades, uma petição pública na internet já pede o mesmo.

Onipresente – Pré-candidato a prefeito de Salvador pelo PRTB, Celsinho Cotrim não cochilou das prévias até a quarta-feira de cinzas. Arrumou tempo para prestigiar todos os eventos que se possa imaginar. Pelo ritmo, terá que comprar uns cem pares de tênis até outubro.

Contenha-se – O presidente Bolsonaro (sem partido) perde quase todas as oportunidades de se conter e abrir a boca apenas para noticiar ações positivas do governo federal. Ao invés de melhorar o diálogo com o Congresso Nacional e o STF, ele opta por incitar protestos contra os outros poderes constituídos. Quem não se lembra do 03 (Eduardo Bolsonaro) falando que para fechar o STF bastam um soldado e um cabo.

Coronavírus – O Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso positivo de coronavírus no Brasil e na América Latina. O brasileiro de 61 anos veio da Itália para São Paulo. Ele está em quarentena domiciliar e 30 familiares que tiveram contato estão em observação. Os passageiros que chegaram no mesmo avião também ficarão em observação.

Inquietude – Quais os limites da imunidade parlamentar?