Comércio de Salvador. Um recorte de época.
Entre ruínas e decadência a região do Comércio de Salvador ainda possui um brilho intenso repleto de histórias. Hoje vamos voltar no tempo e ver um pedacinho da Cidade nas primeiras décadas do século XX.
De um lado um senhor elegante vestido com um terno escuro, segurando um guarda-chuva com chapéu, cumprimenta outro senhor, de camisa branca e suspensório, na frente de um estabelecimento comercial (Linhares/Pedreira) em um belo prédio, símbolo das reformas urbanas que mudaram o contexto das antigas ruas do Comércio. Compondo o cenário temos pedestres que caminham pelo passeio e rua, sem carros, com uma carroça encostada no lado direito da calçada, ao lado dos trilhos do bonde e de árvores ainda pequenas seguindo o paisagismo do período.
Na imagem da primeira década do século XX se destacam imponentes prédios com ricas fachadas adornadas com motivos florais, balcões sinuosos com delicados balaústres ou gradis, janelões emoldurados por intricados trabalhos trazendo volutas, mascarões, folhas de acanto, verdadeiras vitrines de estilos. E toda uma variedade de comércios em seus térreos e demais funcionalidade nos andares superiores. A antiga Rua das Princesas (Princezas na época), atual Rua Portugal, representava bem o contexto das reformas urbanas empreendidas no primeiro governo de Joaquim José Seabra e as diversas intervenções na região do Porto de Salvador e nos anos anteriores.
Seguindo a rua encontramos o entorno da antiga Alfândega, atual Mercado Modelo, e na direção oposta, passando pela Rua Conselheiro Dantas, temos o prédio da Associação Comercial da Bahia, inaugurado em 28 de janeiro de 1817; em 1910 a área passou por significativas intervenções a exemplo de calçamento e saneamento das velhas ruas.
A partir da segunda metade do século XX novas construções passaram a compor o cenário ocupado pelos casarios da imagem, prédios modernos seriam construídos entre os antigos exemplares do ecletismo do início do século XX, juntamente com uma nova ordem no fluxo das relações comerciais e interesses políticos do período. Arruinados, vitimados por incêndios ou demolidos, pouco a pouco novas vistas começaram a predominar no centro pulsante do Comércio.
A região por si só já vale uma visita.
Rafael Dantas é historiador e artista plástico.