Felipe Gonçalves. Foto: Reprodução.

Na última quarta-feira (17), o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu aumentar a taxa básica de juros para 2,75%, o primeiro aumento após seis anos, mas o que isso significa para os investimentos? Para Felipe Gonçalves, Assessor de Investimentos da BP, essa é uma resposta do Banco Central à escalada dos riscos fiscais, do câmbio e da inflação. Ele também alerta os investidores da poupança, tipo de investimento mais usado no Brasil, apesar da alta, deixar dinheiro lá ainda é um mau negócio.  

Em 2020, enquanto a caderneta rendeu 1,99%, o IPCA, índice do IBGE que mensura a inflação oficial no Brasil, encerrou o ano em 4,52%. Na prática, significa que o dinheiro deixado na poupança no ano passado perdeu poder de compra, mesmo com a alta de juros, esse cenário tende a continuar, e os investidores em poupança ainda podem ter perda no poder de compra. Portanto, para os investidores mais conservadores, os títulos públicos são os mais indicados. Em entrevista, Felipe também falou dos impactos em outros tipos de investimentos.  

Em comunicado, o Banco Central deixou as portas abertas para mais uma alta de 0,75% para a próxima reunião, que ocorrerá em maio. “Apesar da expectativa de alta, não acredito que o Brasil voltará a ter Selic em 10% ou mais no curto e médio prazo. Porém, a fragilidade das contas públicas é um fato relevante que pode levar a um cenário mais negativo, o que faria uma pressão inflacionária no dólar, o que poderia levar a Selic acima dos dois dígitos novamente”, afirma.  

Com o novo cenário, muitos investidores se perguntam onde deve ser a parte significativa do portfólio de investimentos, mas para Felipe não há fórmulas mágicas para investir. “O que existe é um tripé dos investimentos: liquidez, risco e rentabilidade. Se um cliente é mais conservador, ele vai buscar segurança e liquidez. Já um cliente com perfil mais agressivo, vai buscar mais rentabilidade, abrindo mão da liquidez e da segurança. O ideal é entender o perfil e objetivo do cliente e montar uma carteira personalizada, diversificada e de longo prazo. Além disso, fazer o acompanhamento é muito importante, caso necessário, fazer ajustes pontuais por conta de mudanças conjunturais”, ressalta.  

Após a alta da Selic, diversos analistas do mercado voltaram os olhos para o fundo multimercado, mas para o assessor de investimentos a análise não é tão simples. “Existem várias categorias nos fundos multimercados, que são definidos por sua estratégia. Grande parte são os fundos multimercados macro, ou seja, que investem de acordo com os fatores macroeconômicos, grande parte local. Posso citar também os fundos quantitativos, que analisam e operam uma base de dados grande, usando algoritmos. Como uma forma de diversificação de carteira, gosto de fundos multimercados que mostrem descorrelação com a indústria, como fundos quantitativos, long x short, valor relativo ou fundo que tenham gestores com expertise em diversificação internacional”, explica.  

Muitos setores se beneficiam diretamente da alta nos juros. “As principais empresas que se beneficiam são os bancos, seguradoras e importadoras. Os Bancos são diretamente beneficiados por uma elevação da taxa Selic devido à diferença entre o custo de captação e os juros cobrados dos clientes, diretamente atrelado ao spread bancário. Além da receita operacional que vem da venda de seguros, as seguradoras têm como outra fonte relevante de receita as aplicações feitas no mercado financeiro.  Como uma grande parte dessas aplicações são em renda fixa com rendimentos atrelados à Selic, uma alta na taxa básica de juros leva a maiores retornos sobre o capital investido. Com a alta na Selic, o dólar tende a cair, o que beneficia empresas importadoras. Esse movimento acontece pela diferença dos juros entre o Brasil e outros países” finaliza.