Festa de Iemanjá. Foto: Bruno Concha.

Nascida e consolidada como uma celebração quase que exclusivamente soteropolitana, a Festa de Iemanjá, como se conhece hoje, data de um século atrás. O dia 02 ainda não havia se estabelecido como data fixa, pois em alguns locais era celebrada desde dezembro, ou sequer se tratava de uma divindade marinha – na África e até mesmo dentro das comunidades afro-brasileiras, era uma festa destinada às divindades dos rios.

Uma curiosidade é que os festejos da rainha do mar em Cuba, por exemplo, têm tradição semelhante à da Bahia atual. Aos poucos, deixando a água doce, a tradição do dia 02 de fevereiro, essa sim, nasceu no Rio Vermelho e segue até os dias atuais. Ela surge quando pescadores locais resolvem ofertar à Rainha do Mar, já que naquele e nos anos anteriores, a dificuldade em encontrar peixes estava bastante grande.

“Acaba sendo uma memória ancestral do ser humano de cultuar os oceanos. Sempre precisamos dos oceanos para garantir a sobrevivência e desbravar novos mundos, desde o Egito antigo já havia toda essa relação do homem com o mar. E não somente na tradição africana, pois os católicos têm Nossa Senhora das Candeias, de Santana e outras divindades que possuem essa relação com o mar. No caso de Iemanjá, é a afirmação de uma etnia”, reflete o historiador Murilo Melo.

Ele defende a combinação entre tradição e modernidade, a exemplo das inúmeras tentativas de tornar a entrega do presente algo mais sustentável, na tentativa de não poluir as praias e o mar durante o ato de fé de baianos e turistas. “Iemanjá representa a fertilidade, a garantia do sustento dos pescadores, a vida, a proteção no imaginário religioso da cidade. Todas as festas e manifestações culturais são fluidas e vejo com muito bons olhos esse diálogo com a contemporaneidade, onde existe uma maior preocupação com o meio ambiente. Penso que é bastante pertinente essa reelaboração das oferendas nas festividades do nosso tempo”, finaliza.

Festa de Iemanjá. Foto: Bruno Concha.

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