Considerada uma das vozes mais relevantes no que tange a pautas indígenas, a baiana Alice Pataxó concedeu uma entrevista para o portal Meio e Mensagem, na seção “Women to Watch”, publicada nesta terça-feira (14), onde falou sobre o início de sua trajetória ativista e como utiliza as redes sociais para dialogar acerca de temas relevantes.
A jovem de 22 anos participou da 26ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 26), ocorrida em 2021, e foi indicada por Malala Yousafzai para figurar na lista das 100 mulheres mais influentes e inspiradoras, promovida pela BBC, em 2022. A presença dela nestas situações ilustram a visibilidade concedida em seus diálogos com pessoas dentro e fora da comunidade indígena.
A ativista salientou que frequentar a escola indígena, onde havia “debates importantes sobre a participação dos alunos na construção coletiva da educação indígena”, foram relevantes para suas atividades atualmente. Estas vivências conduziram Alice para conhecer melhor outros movimentos de sua comunidade, como questões territoriais, por exemplo.
Alice possui 170 mil seguidores no Instagram e 114 mil pessoas a acompanham no X (antigo Twitter). Presente nestes espaços desde seu ensino médio, ela começou a utilizar as redes para “debater e expressar minhas frustrações sobre as questões indígenas, incluindo a municipalização da saúde indígena. Eu defendia minhas opiniões em uma linguagem jovem e acessível, sem tentar explicar tecnicismos legais, apenas querendo mostrar por que determinadas políticas não seriam benéficas para nossa comunidade”.
Reconhecendo o crescimento do debate quanto a pautas indígenas, Alice salienta uma ausência relevante na produção de conteúdo: “Percebo que há poucas mulheres nessa área, e é crucial falar sobre as perspectivas das mulheres dentro dos territórios, vindas de diversos lugares. Muitas vezes, sinto falta de ouvir sobre outros territórios e entender suas demandas, que provavelmente são diferentes das minhas”.
Além disso, a ativista também ressalta a importância da produção de conteúdo oriundo de pessoas indígenas, além das pautas relacionadas à comunidade. “Muitas vezes as pessoas tendem a generalizar que pessoas indígenas devem falar apenas sobre território, mas não é bem assim. Quero ver mulheres indígenas falando sobre maquiagem, cuidados com o cabelo, fazendo piadas e brincadeiras. A vida não se resume apenas a lutas, e as redes sociais também têm o propósito de divertir e entreter”, afirma.
Pautas como marco temporal e outras relacionadas à demarcação de território no Brasil são encaradas como urgentes pela ativista baiana. Além disso, a educação também possui relevância e merece atenção: “Aqui na Bahia, onde resido, estamos especialmente focados na regulamentação do trabalho do professor indígena. É essencial destacar essa pauta e buscar dignidade para esses profissionais, reconhecendo que a língua indígena faz parte do currículo. É inaceitável que esses professores tenham condições de trabalho inferiores aos demais no Brasil, e é por isso que estamos trabalhando nesse projeto na Bahia. Apesar de alguns avanços recentes, ainda há muito a ser feito para alcançarmos nossos objetivos”.
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