“Eu preciso avisar que hoje ninguém chega em Belém! Eu peguei a Estrela de Natal, mas foi pra evitar o pior. Vai que a polícia segue o rastro da estrela e chega atirando e matando? Derruba José e Maria do burro a tiros? É preciso cuidado! Não vai dar pra revelar assim tão fácil o lugar do nascimento de Jesus. Tá tudo muito difícil. José não conseguiu o auxílio, dificuldades com o aplicativo. Maria ficou sem pré-natal porque os postos e UPA’s estão lotados de pacientes aguardando leitos de UTI. Tá tudo muito tenso. E com as queimadas os bichos estão alvoroçados e até agressivos. Melhor não aglomerar exatamente na hora de trazer ao mundo o Salvador. Aliás se desse pra adiar era melhor. Será que Maria consegue esperar a vacina? Qualquer vacina? Tentar entrar numa lista qualquer de prioridades. Será? Os Reis Magos não compraram presentes pois são grupo de risco, mas mandaram lembranças e saúde ao bebê celestial. E assim a tradição cristã dá lugar á verdade crua e sem passas. Mas a fé se encarrega de contar uma outra história. Porque enquanto houver pulmão haverá esperança. E viva os contadores de histórias que são capazes de manter a nossa chama mesmo quando o fogo persiste em apagar. Desejo fogo no peito de cada um! E sonho no punho de todos nós”.
Elísio Lopes Jr., dramaturgo, diretor teatral, produtor, escritor e roteirista baiano.