
No último sábado (18), a Arena A TARDE, em Salvador, foi palco de um espetáculo que uniu música, ancestralidade e amizade. O Baile à La Baiana — projeto que reúne Seu Jorge, Magary Lord e Peu Meurray — marcou o lançamento do álbum homônimo e celebrou a força da criação coletiva entre três artistas que compartilham trajetórias, referências e raízes afro-brasileiras. A turnê chega a capital baiana após passar por várias cidades brasileiras e europeias.
Mais do que um show, o encontro reflete um movimento crescente na música brasileira: o de artistas negros que se unem para criar e reafirmar suas identidades por meio da arte. Exemplos recentes dessa corrente incluem as parcerias entre BaianaSystem e Vandal, ou ainda projetos que conectam nomes como Luedji Luna e Luiz Melodia, demonstrando uma nova fase de colaboração e fortalecimento cultural.
Em entrevista ao Anota Bahia, o cantor e ator Seu Jorge analisou esse movimento e destacou a importância simbólica desses encontros, que estão se formando de forma orgânica. O multiartista atribuiu o desenvolvimento dessas iniciativas à admiração mútua que os polos têm entre si, reforçando que os projetos devem receber mais atenção e prestígio.
“É significativo sim entender que a gente pode estar inspirando outras pessoas a tomar determinadas posições em prol de algo muito positivo, que é a música, que é a expressão. É tão importante esses atores da música contemporânea de hoje, como o Ed, como o Peu, como o Magary, como o Jau e o BaianaSystem, e eu posso me incluir nisso, lógico, acho que um pouquinho mais velho que essa turma, mas me sinto muito refrescado, muito renovado, perto deles todos”, afirmou.
Jorge se mostrou realizado em estar em contato e colaboração com artistas da nova geração, que segundo ele, trazem uma nova maneira de perceber música, expressão, dança e canto. Em junho, ele participou da faixa ‘Apocalipse’ do álbum ‘Antes Que A Terra Acabe’, de Luedji Luna.
“Eu sou nativo de uma outra história, né? Mais analógica. Eu venho de um outro mundo, então é muito incrível poder aprender especialmente com os nativos digitais. Há muito o que aprender porque há muito o que se desenvolver ainda nesse campo”, contou.
Afropop e conexão com a Bahia
A capital baiana estar dentro desse percurso de união na música afro também foi celebrada por Seu Jorge, que enxerga a cidade como um berço cultural e religioso. Ele revela que teve a oportunidade de receber conselhos e ensinamentos de Mãe Stella de Oxóssi, Mãe Carmen do Gantois e Mãe Índia.
“Pessoalmente entendo que aqui tem um lugar de muita origem, de muita ancestralidade, de muita identidade também para o povo negro. Eu mesmo venho buscar isso para a minha vida aqui em Salvador”, disse o artista. “Eu me sinto tão parte daqui e agora com esse título [de cidadão soteropolitano], então, eu estou todo abusado”, acrescentou.
A musicalidade afro-brasileira se manifesta por diversas vertentes em Salvador e em outras praças, desde do Axé, Pagodão, Rap, Samba, Jazz, R&B e tantos outros — promovendo uma grande pluralidade no que tange a cultura e ancestralidade.
“A música brasileira em geral sempre contou com a africanidade que aqui existe. Salvador, particularmente, a gente já até apelidou de ‘Little Africa’. Sabemos que contém no Brasil o povo negro, que é muito abundante. Somos 54% da população que se reconhece como pretos e pardos, e isso tem uma influência muito presente, muito importante, na música brasileira”, declarou Seu Jorge.
O artista ainda destacou a maior atenção recente ao afropop, existente desde o início da trajetória de Margareth Menezes, e agora, muito bem liderado por nomes como Baco Exu do Blues, que une as duas vertentes à sua identidade baiana. “Fazendo tudo ficar afro, então fica afro-pop”, disse. O próprio Baile à La Baiana, segundo Jorge, segue esse mesmo viés — enaltecendo influências.
“‘Baile à La Baiana’ é uma busca entre juntar Tim Maia com Carlinhos Brown, Timbalada com a banda Black Rio, e Vitória Régia com o Olodum e Ilê, sabe? É uma tentativa de pôr simbioses com Sandro de Sá, Margareth, Cassiano e Gerônimo. Porque a gente se encontra, né? A Mangueira nasceu nas Ciatas da Bahia, Entende? A estação primeira da Mangueira, o movimento do Rio de Janeiro, começa com as Ciatas e leva o samba de roda, e aí tem esse movimento todo e nasce a escola de samba. O Brasil é maravilhoso, não tenho dúvida disso, meu povo. Este país chamado Brasil, cara, é pra viver, lutar e morrer por ele”, concluiu.

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