Ana Canãs. Foto: Marcus Steinmeyer.

Ana Cañas passeia com sabedoria pela obra de Belchior em seu novo álbum, “Ana Cañas canta Belchior”, que já está disponível nas principais plataformas de streaming. A cantora e compositora paulista achou sua própria linguagem para trazer de forma certeira 14 faixas que prezam pela sutileza e ao mesmo tempo por interpretações densas e profundas. Ela abre o disco com “Coração Selvagem”, deixando claro que força e feminilidade são elementos que sobressaem neste projeto. Outros grandes sucessos do cearense como “Sujeito de Sorte”, “Paralelas”, “Alucinação”, “Velha Roupa Colorida” e “Como Nossos Pais” também ganharam sua voz. Os arranjos produzidos pela própria artista e por Fabá Jimenez são minimalistas e impactantes.

“Acho que o fato de ter poucos elementos acaba por ressaltar a voz, a interpretação. E esse foi o desafio. As músicas versam geralmente sobre paixão, catarse e reflexão social. Exige uma compreensão ampla das camadas do coletivo e suas intersecções. Apesar de muitas metáforas e poesia, também traz uma literatura direta e acessível. É um universo bastante complexo e há que se despir para mergulhar nele”, analisou Ana.

E o pulo de cabeça da artista no oceano de Belchior começou há dois anos. Uma live despretensiosa com esse repertório resultou em mais de meio milhão de plays no YouTube e os fãs pediram para o registro das gravações em estúdio.

“Sinto que uma voz feminina relendo um clássico da música popular brasileira é como um portal. Novos sentimentos e olhares. Cresci ouvindo Elis, Gal e Bethânia fazendo isso como ninguém e redirecionando músicas (escritas geralmente por homens) em versões definitivas. Porque mulheres têm um abismo singular, conhecem cerceamento e opressão de forma única e isso é traduzido no canto com uma força peculiar”, defendeu a intérprete.

“A ideia é trazer uma espécie de disco visual e aproximar o público do making of, para que as pessoas possam conhecer os meandros das gravações e bastidores do projeto. “O de “Como Nossos Pais”, por exemplo, é o real take do disco, algo muito raro de conseguir e calhou de a diretora estar dentro na cabine de gravação quando fiz o take que escolhemos para o disco. Ele é bastante especial”, disse a artista.