A empreendedora, palestrante, biotecnologista, mãe e influenciadora digital baiana, Anna Luísa Beserra, desenvolveu quando ainda tinha somente 15 anos de idade o Aqualuz – uma tecnologia inovadora que busca melhorar a qualidade de vida das pessoas, ao proporcionar o acesso a água potável em regiões áridas. Dois anos depois, ela fundou a SDW for All, ou Desenvolvimento Sustentável e Água para Todos (em inglês, Sustainable Development & Water For All), startup que usa tecnologias avançadas para garantir o acesso à água potável e saneamento de qualidade para as regiões mais remotas do país.
Desde então, suas iniciativas e seu trabalho em prol da saúde pública e saneamento foram reconhecidos por várias entidades como a ONU, Forbes, UNESCO, Project Management Institute (PMI), entre outros. Neste ano, Beserra alcançou um novo espaço para conseguir ampliar os debates acerca das temáticas defendidas em seus projetos: a educação. A cientista baiana, integrante da lista “Forbes Under 30” e “MIT Innovators Under 35”, agora também faz parte do corpo docente do INSPER, em São Paulo.
Em entrevista exclusiva ao Anota Bahia, Anna Luísa Beserra falou sobre sua trajetória inovadora como CEO da SDW for All, seu novo papel dentro da sala de aula, perspectivas em relação ao cenário de inovação e sobre os desafios dentro do processo para a Universalização do Saneamento Básico.
Atuando como palestrante e influenciadora digital, você leva a discussão a respeito do acesso à água e saneamento para várias pessoas. Agora como professora, você está ainda mais ligada ao fator educativo, de influência e formação de profissionais dentro dessa temática. Como tem sido assumir essa posição?
Assumir a posição de educadora da Educação Executiva amplifica o meu impacto. Na sala de aula, por mais que em oportunidades pontuais, tenho a oportunidade de me moldar diretamente às percepções e as competências dos profissionais da área que na maioria das vezes já estão em atuação. Isso é uma extensão do meu trabalho nas redes sociais e conferências, onde busco conscientizar e mobilizar o público sobre a importância do acesso à água e saneamento, principalmente em comunidades em situação de vulnerabilidade.
É importante destacar que são trabalhos similares quando o assunto é levar informação, mas é claro que na função de professora eu tenho a liberdade, e também a obrigação de aprofundar um pouco mais sobre o que eu falo, seja na citação de artigos científicos, livros ou até mesmo na cobrança do meu público, que nesse caso são de estudantes/e ou pessoas que já atuam na área.
Como sua experiência em palestras e congressos te auxiliaram nessa nova etapa como professora? Ainda mais ao ministrar um curso (“Saneamento para Áreas Irregulares – Desafios para a Universalização”) com uma temática ligada com inovação no saneamento, o desenvolvimento socioambiental e às ações da SDW for All.
Palestras e congressos na área das ciências, sejam humanas, biológicas ou exatas, sempre engrandecem nosso conhecimento, trazem novas perspectivas e nos ajudam a ver o que outros pesquisadores estão pesquisando. Assim, a minha experiência como palestrante tem sido fundamental para a transição para professora, especialmente no INSPER. Ao longo dos anos, desenvolvi habilidades de comunicação e engajamento de público que agora aplico em sala de aula. O desafio é transformar minha prática em teoria, algo que procuro fazer ao integrar casos reais e discussões interativas sobre inovação no saneamento.
Entrando no corpo de docentes do INSPER você tem mais um canal para falar sobre saúde pública e saneamento. Seja na sala de aula, palestras ou redes sociais, qual a importância de fomentar discussões sobre esse tema?
A importância é extrema. Na verdade, esse assunto deveria ser debatido a todo instante, nas escolas, nas universidades, na vida, no corpo político do país, etc. No INSPER, nas redes e em palestras, enfatizo a necessidade de abordar a saúde pública e o saneamento de maneira integrada. Discutir esses temas é crucial para desenvolver soluções inovadoras e sustentáveis que atendam às necessidades reais das comunidades, especialmente as mais vulneráveis.
Quais são suas perspectivas do cenário nacional e internacional de inovação e soluções para o acesso ao saneamento? Existe algo que é implementado no exterior que auxiliaria no Brasil, e existe alguma ação brasileira que poderia ser usada lá fora?
Internacionalmente, há muitas práticas que poderiam ser adaptadas para o Brasil, como sistemas avançados de reciclagem de água. No Brasil, nossa capacidade de inovação, como o uso do Aqualuz em áreas rurais, também têm potencial para ser implementada em outras regiões do mundo, promovendo acesso sustentável à água.
Quais os principais desafios que cernem o processo de universalização do saneamento básico no Brasil?
A universalização do saneamento enfrenta desafios como investimento insuficiente, infraestrutura precária e falta de políticas públicas eficazes. É crucial que o governo e o setor privado trabalhem juntos para superar esses obstáculos e priorizar investimentos em tecnologias e infraestrutura adequadas. Além disso, é fundamental promover a conscientização da população sobre a importância do saneamento básico para a saúde pública e o meio ambiente. A educação e o engajamento das comunidades também são extremamente essenciais para garantir a sustentabilidade dos projetos de saneamento a longo prazo.
A colaboração entre diferentes setores, incluindo ONGs, universidades e organizações internacionais, também pode trazer inovação e novas soluções para os problemas de saneamento. Incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias acessíveis e sustentáveis pode acelerar o progresso na universalização do saneamento.
De que forma tecnologias, como a Aqualuz, atuam como aliadas na busca por acesso a água e saneamento? Quais outros equipamentos também estão envolvidos, ou estão em desenvolvimento para auxiliar neste processo?
Tecnologias como o Aqualuz são essenciais para promover o acesso à água potável. Outras inovações em desenvolvimento visam melhorar a eficiência dos sistemas de saneamento e reduzir os custos operacionais, facilitando sua implementação em comunidades carentes. Na SDW sempre estamos focando em aperfeiçoar os nossos equipamentos e até mesmo no lançamento de novas tecnologias, tomando como base principalmente a necessidade do nosso público principal – pessoas que não tem acesso a saneamento básico.
– A SDW for All também conta com outras tecnologias como o Aquafiltro, que realiza a filtragem por meio da ultrafiltração; a Aquasalina, que transforma a água salobra em uma fonte segura para consumo humano; e a Aquatorre, desenvolvida para suprir comunidades em um só local. –
A falsa ideia de que saneamento básico se resume somente a esgoto ainda está muito presente no consciente geral das pessoas? Como fazer para que instituições e governos comecem a tratar como prioridade para a saúde pública e dignidade da população?
Essa é uma questão que eu sempre trago à tona quando vou em podcasts e falo nas minhas mídias sociais. O primeiro passo para resolver o problema do saneamento básico no Brasil é fazer com que as pessoas entendam o que é saneamento básico e possam visualizar o tamanho deste problema no Brasil. Só depois que a sociedade como um todo entenda bem esse conceito, que podemos começar as grandes transformações no Brasil.
Por isso, é vital que as campanhas de educação e as políticas públicas reforcem a importância do saneamento para a saúde e a dignidade humana, incentivando o tratamento adequado e a infraestrutura.
Como projetos de saneamento, como a SDW for All, podem impactar no mundo empresarial e no funcionamento de empresas? E como impacta a vida do cidadão que vive na cidade até a do cidadão que vive em situação de vulnerabilidade?
Projetos como o SDW for All não só melhoram a qualidade de vida nas comunidades afetadas, mas também oferecem oportunidades para empresas inovarem em suas operações. A integração de práticas sustentáveis pode levar a melhorias significativas em eficiência, redução de custos e responsabilidade social corporativa. Além disso, iniciativas como essas promovem a criação de um ecossistema colaborativo onde empresas, governo e sociedade civil trabalham juntos para enfrentar desafios ambientais e sociais. Isso pode resultar em parcerias estratégicas que potencializam o impacto positivo e aceleram a implementação de soluções sustentáveis.
A adoção de tecnologias inovadoras e práticas sustentáveis nas operações empresariais também contribui para a construção de uma reputação sólida e confiável. As empresas que se comprometem com a sustentabilidade e a responsabilidade social frequentemente ganham a confiança e a lealdade de consumidores cada vez mais conscientes e exigentes.
Inclusive, estamos com uma campanha de financiamento coletivo online, em parceira com a Europa Purificadores, para doar dispositivos de desinfecção da água à comunidade quilombola do interior da Bahia. Com a “Elas por 40”, buscamos transformar a realidade de 40 famílias que não tem acesso à água de qualidade. Ainda há 12 dias para alcançarmos a meta.
Com apenas 15 anos você desenvolveu a tecnologia Aqualuz e com 17 criou a SDW for All. Desde então, várias entidades como a ONU, Forbes, UNESCO e MIT reconheceram seu trabalho e potencial, e hoje você impacta a vida de pessoas também na sala de aula. Olhando para trás, como você define sua trajetória, como projeta seus objetivos e como incentiva outras mulheres a empreenderem e quererem fazer a diferença?
Olhando para trás, vejo uma jornada repleta de aprendizado, desafios e conquistas. Desde o desenvolvimento do Aqualuz, uma solução inovadora que transformou vidas ao proporcionar acesso a água potável em regiões áridas, até lecionar no INSPER, minha trajetória é marcada por um compromisso contínuo com a inovação e o impacto social. Cada etapa do caminho trouxe novas oportunidades de crescimento e a chance de fazer a diferença. No INSPER, estou tendo a honra de compartilhar conhecimentos e inspirar a próxima geração de líderes e empreendedores, destacando a importância da sustentabilidade e da responsabilidade social.
Meu objetivo sempre foi incentivar outras mulheres a perseguirem seus sonhos com coragem e determinação, encorajando-as a se engajarem em áreas como tecnologia e empreendedorismo. Acredito que, ao promover a diversidade e a inclusão, podemos criar soluções mais criativas e eficazes para os desafios do mundo moderno. Espero que minha trajetória sirva como um exemplo de que, com paixão e perseverança, é possível superar obstáculos e causar um impacto positivo na sociedade. Que mais mulheres se sintam motivadas a explorar seu potencial e a fazer uma grande diferença em suas comunidades e além.
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