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Bárbara Becattini. Foto: Divulgação.

Em conversa com o Anota Bahia, a arquiteta baiana Bárbara Becattini, da Bettí Arquitetura, nos contou um pouco sobre a neuroarquitetura, estudo da neurociência aplicado à arquitetura que é destaque em projetos como o da Escola Ybá do Quintal, comandado por ela em Salvador. Confira:

Bárbara, como você definiria a neuroarquitetura?

Neuroarquitetura é a neurociência aplicada à arquitetura. Para mim, a neuroarquitetura me permite projetar com muito mais responsabilidade e equilíbrio, com o foco em pessoas, na qualidade de vida e saúde mental. Quanto mais eu aprendo sobre neurociência, mais eu entendo a nossa capacidade e importância como arquiteta. O conhecimento me inspira!

Como a neuroarquitetura influencia nas construções?

Ao entender como o nosso organismo reage a determinados estímulos, podemos traçar decisões projetuais com muito mais responsabilidade, partindo das necessidades e prioridades a serem atendidas de acordo com as atividades no ambiente proposto. Passamos a maior parte do nosso tempo dentro de ambientes construídos e quanto mais tempo passamos, mais efeitos na nossa vida esse lugar nos causa. Portanto, ambientes enriquecidos são fundamentais para uma vida com muito mais qualidade.

Você é o nome à frente do projeto arquitetônico da Escola Ybá do Quintal, pautada na neuroarquitetura. De que forma esse campo de estudo pode ajudar no desenvolvimento e educação das crianças?

Os ambientes afetam diretamente os nossos comportamentos, as reações, o desenvolvimento cognitivo e motor, a curto e longo prazo e de maneira individual, potencializando emoções, fortificando a personalidade e alimentando memórias (positivas e/ou negativas). Os resultados dos estudos da neurociência aplicada à arquitetura possibilitam evidências que respaldam as decisões para projetar espaços enriquecidos e estimulantes, elevando o potencial criativo e cognitivo das crianças a partir de estratégias sensoriais para iluminação, ventilação, texturas, mobiliários, cores, todos com base na natureza, promovendo um espaço aconchegante, seguro, organizado, capaz de se adaptar às necessidades que surgem com o tempo.

Escola Ybá do Quintal. Foto: Divulgação.

Quais intervenções foram feitas na Ybá, para citar algumas?

Em todas as mínimas e máximas decisões do projeto da Escola, eu procurei justificar em estudos e evidências científicas, sempre com o objetivo de acolher a proposta pedagógica de forma eficiente. Nas escolhas dos materiais, por exemplo, sempre remetendo à natureza, aos tons da natureza, nas texturas em determinados lugares, como nos lavatórios, coloquei seixos, a fim de provocar, acolher e convidar a novas experiências. Outro exemplo, os maiores vãos possíveis de janelas e em uma altura que as crianças possam olhar para o exterior (luz natural, ventilação natural e interior em contato com exterior). Como uma decisão traz outras, fizemos uma jardineira rodeando todas as salas com a intenção de trazer ainda mais vida e contato com a natureza para dentro das salas. 

Em tempos em que as pessoas prezam cada vez mais por bem-estar, como a neuroarquitetura poderia se fazer presente no cotidiano das pessoas, seja em casa ou no escritório, por exemplo?

Existe todo um contexto para que possa ser aplicado, mas, de forma direta, o uso de uma iluminação não apropriada desregula completamente nosso ciclo circadiano, conhecido como “relógio biológico”, e consequentemente nossos hormônios! Por exemplo, no quarto, um lugar para descansar, o fato de usar muita luz direta e branca a partir de 19/20hrs, inibe a produção de melatonina, que começa a ser produzida no nosso organismo no início da noite, e assim desregula a produção de cortisol, e por fim desregula o sono. O fato de ter um sono irregular e prejudicado,  provoca uma série de efeitos negativos no nosso organismo. Ou seja, a qualidade da luz durante o dia afeta a qualidade do sono durante a noite.

As percepções dos indivíduos em relação aos ambientes são diferentes. Como age a Neuroarquitetura em projetos que envolvam um grande número de pessoas, como hospitais, escolas, shopping Centers…

Exatamente! Cada indivíduo carrega memórias de diferentes origens e, como consequência, percepções e reações diferentes. Mas, projetar um lugar para muitas pessoas é justamente entender o ser humano na sua totalidade, entender o tempo de permanência, necessidades e ocupação. Uma teoria que levo para todos os espaços é a “Teoria do Pertencimento”, a qual entende-se a necessidade humana de se sentir parte de um espaço físico. 

De que maneira você vê a neuroarquitetura abarcando projetos sociais na cidade?

Eu acredito que ambientes enriquecidos, acolhedores e estimulantes são propulsores para o desenvolvimento social, promovendo qualidade na conexão entre as pessoas, então eu vejo como algo necessário para um futuro melhor! Por trás de um projeto pautado em neuroarquitetura, trabalhamos a empatia, pensando nas experiências e consequências. Quanto mais entendemos as pessoas, mais sabemos projetar! Existem diversos outros fatores e o ambiente é apenas um deles, mas se esse estiver garantido, eu acredito que haverá mudanças.

E para descontrair… Se eu quisesse mudar algo hoje em casa para me sentir melhor, qual seria sua principal dica? 

A organização, um importante pilar da neuroarquitetura, ajuda muito no aspecto visual dos ambientes. Estamos a todo tempo captando informações dos espaços de forma passiva, nós nos habituamos aos ambientes mas não deixamos de ser afetados por eles. E o segundo ponto, a iluminação. Ter preferência por luz indireta e na temperatura de cor quente.

Confira mais fotos do projeto: