Carlos Amorim – Franqueado da CasaCor Bahia

Executivo com experiência nas áreas de meio ambiente e patrimônio histórico e atuação no desenvolvimento de projetos de arte e cultura, esta é a primeira investida do empresário Carlos Amorim à frente da Casa Cor Bahia, que completa 25 anos em 2019 e chega à sua 24ª edição com o tema Planeta Casa. Segundo ele, cuidar da natureza custa caro e é preciso um maior “comprometimento de toda a cadeia (da construção) com esses que são temas importantes para a sociedade”. “Este ano a gente investiu muito em acessibilidade, sustentabilidade, inclusão, responsabilidade social. Elementos que são a parte cara da mostra”.

O que o visitante da Casa Cor vai encontrar de novidade este ano?

A Casa Cor é um evento de apresentação de tendências, inovações, tecnologia, alta qualidade de design, arquitetura, e este ano o nosso tema é Planeta Casa – a casa como sendo um espaço onde a conectividade, que é parte do nosso cotidiano, (pois) todo mundo vive ligado nos seus celulares, encontra uma planta mais aberta, que propicia o convívio e, portanto, aumenta a afetividade dos relacionamentos, ao mesmo tempo que o sujeito não se desliga do mundo. Ele está próximo dos prazeres que a quantidade de informação rápida oferece, mas também ligado às mazelas do mundo. Então, as preocupações com natureza, meio ambiente são sempre muito fortes dentro desse espaço de convivência das pessoas. Esse é o mote principal da mostra, que acontece ao longo do ano inteiro, em quatro países (Miami, nos EUA; Assunção, Paraguai; Lima, Peru; e Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia); e no próximo ano chega a Lisboa (Portugal) e mais 18 praças no Brasil.

Como foi a sua chegada a essa área?

Eu tenho uma afinidade com a área que é da minha vida. Eu trabalhei sempre com cultura, com meio ambiente, com patrimônio histórico, com arte; portanto, era natural que, sendo provocado – não foi uma coisa que eu busquei –, eu me sentisse atraído.

Além de atuar na esfera pública, você também é empresário, correto?

Eu sou empresário, tenho duas empresas, uma delas atua especificamente na área de meio ambiente e patrimônio; e trabalho com desenvolvimento de projetos de arte e cultura.

E como foi aceitar o convite para essa nova missão?

Uma missão muito positiva, a Bahia tem um dos melhores elencos de arquitetos do país. Vamos lembrar que o primeiro arquiteto (português) em solo brasileiro atuou na Bahia, Luís Dias (1505-1542), fez a planta da Cidade Alta, que está lá praticamente íntegra, uma das mais bem preservadas do mundo; uma cidade do século XVI, (Salvador) é muito antiga. Então, arquitetos, designers de excelência, a Bahia sempre teve. Nossas igrejas, ladeiras, ascensores, a cidade é uma profusão de obras arquitetônicas de grande valor; e os arquitetos que aqui vieram depois foram sempre inspirados por essa cultura tão forte, vigorosa. E eu cheguei à Casa Cor com essa pegada.

Como foi realizar a curadoria desta mostra, lidar com arquitetos e designers?

Tem o tema da mostra, e os diretores franqueados são livres para construir a sua curadoria. Eu sou um executivo experiente. O que a gente tem é um relacionamento importante com os arquitetos. Uma crença que o design baiano é muito forte; os números dos anuários mostram isso. Uma presença forte dos baianos. Um conjunto de profissionais que se renova. Tem decanos da arquitetura de interiores, nomes extraordinários fazendo Casa Cor com vigor de jovens arquitetos iniciantes; tem arquitetos de 26 anos talentosíssimos e, no meio disso, grandes nomes da arquitetura brasileira.

O estado é um celeiro.

Sim, uma geração aí de em torno de 40 anos talentosíssima, em um nível de produção muito grande. Geração jovem, maravilhosa, arquitetos e designers muito alinhados com as tendências e que está explodindo no evento, vários arquitetos novos com ambientes de estreia, muito impressionante, de alta qualidade. Gente no auge da produção, chegando ao topo da qualidade da produção do trabalho.

E quanto à sustentabilidade..

Este ano a gente está investindo muito em acessibilidade, sustentabilidade, inclusão e responsabilidade social. E para você ter uma ideia, esses elementos são a parte cara da Casa Cor, porque fazer o bem é muito caro. Se fosse para descartar lixo no meio ambiente, ou não respeitar as regras de acessibilidade, ou seja, não cumprir as normas, saía mais barato. O aluguel de uma plataforma é uma fortuna, ainda mais se você põe duas. Cadeira escaladora. Por isso se faz evento sem respeitar regras de acessibilidade. Sustentabilidade é a mesma coisa. A gente contratou uma startup, a Solos, para acompanhar a destinação de todas as toneladas de lixo que a gente produz, tanto orgânico quanto resíduo de obra; na construção e montagem dos ambientes, como na desmontagem. Isso custa muito caro.

Algum material será doado após o fim da mostra?

A gente está com uma ação com a prefeitura de Salvador no sentido de doar todo material que possa ser reaproveitado, como piso, azulejo, telha, madeira.

E o que você gostaria de destacar?

O que precisa ser reforçado, o que parece já muito claro, é que a indústria precisa atuar de forma mais forte nesse sentido; precisa cobrar, junto com os designers, que, na ponta, quem vende, quem comercializa, quem é um grande apoiador do mercado, que seja comprometido com essas causas. Porque, evidentemente, o custo mais alto parte dele em uma mostra desse nível internacional, é reflexo desses compromissos cada vez mais fortes. É preciso o comprometimento de toda a cadeia com esses que são temas importantes para a sociedade.

Por Fábio Bittencourt/Jornal A Tarde.