Dr. Eduardo Martins Netto. Foto: Divulgação

O Dia Nacional de Combate à Tuberculose, celebrado em 17 de novembro, alerta sobre os sintomas e a importância do diagnóstico o quanto antes do paciente com suspeita de estar com tuberculose e o início imediato se confirmada a doença. Embora a tuberculose ainda seja uma realidade desafiadora, com 112 mil casos registrados no país em 2023, sendo 2.430 em Salvador, há perspectivas de transformação desse cenário, com avanços significativos em pesquisa, diagnóstico e tratamento.

O Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose (IBIT), unidade que deu origem à Fundação José Silveira, contribui diretamente para essas melhorias, há 87 anos. Para discutir os avanços e desafios no combate à tuberculose, conversamos com o Dr. Eduardo Martins Netto, médico epidemiologista e coordenador do Centro de Pesquisa, Aprendizagem e Inovação da Fundação José Silveira.

Quais são os principais desafios que o Brasil enfrenta no combate à tuberculose atualmente?
O Brasil enfrenta desafios no combate à tuberculose devido à sua grande diversidade e à dificuldade em alcançar todas as populações, especialmente as mais vulneráveis. A rápida identificação e o tratamento adequado são essenciais para reduzir a transmissão, mas a resistência ao tratamento e o abandono de pacientes continuam sendo obstáculos. Vale lembrar que estamos saindo da pandemia do COVID-19 que dificultou o diagnóstico dos pacientes pela similaridade dos sintomas e porque o sistema de saúde estava voltado ao combate eficiente dos pacientes com COVID-19, então “esqueceram” um pouco da tuberculose, A Organização Mundial da Saúde estima que devido a pandemia do COVID-19, aumento em mais de 20% o número de casos de mortes por tuberculose. Tuberculose é um problema agora de saúde pública urgente.

 

Como a Bahia tem enfrentado os desafios da tuberculose e quais ações estão sendo tomadas para reduzir a doença no estado?
A Bahia tem trabalhado para diagnosticar e tratar pacientes precocemente, além de monitorar contatos. O Estado oferece medicamentos gratuitos e um sistema público de saúde, mas o abandono do tratamento é um desafio, com um índice de 15%. Há uma necessidade urgente de aumentar a identificação dos pacientes com tuberculose, trata-los e tratar seus contatos.

 

Quais são os dados mais recentes sobre a incidência da tuberculose na Bahia e como esses números se comparam ao restante do Brasil?
Em 2023, o Brasil registrou 112.000 casos de tuberculose. A Bahia teve 5.400 casos e Salvador, 2.430. A incidência na capital foi de 37,6 por 100.000 habitantes, refletindo um aumento preocupante em relação aos anos anteriores. Como dito acima, a incidência da tuberculose não está diminuindo no ritmo esperado, menos de 1% ao ano na Bahia e quase zero no Brasil, enquanto que bons programas deveriam trabalhar para diminuir pelo menos 6% ao ano.

 

O que o IBIT tem feito para promover a pesquisa e melhorar o tratamento da tuberculose no Brasil?
O IBIT investe em pesquisas para melhorar diagnósticos e tratamentos, nós já temos uma taxa de sucesso terapêutico acima de 85% o que é ótimo, mas a rede de saúde não, e temos que estudar como melhorar estas taxas. Colabora com projetos nacionais e internacionais e mantém um Biorepositório com mais de 360.000 amostras, essenciais para avanços na pesquisa mais rápido de pesquisa em tuberculose.

 

Quais são os sinais e sintomas mais comuns da tuberculose, e como as pessoas podem identificar a doença precocemente?
Tosse persistente com escarro por mais de 2 semanas, febre baixa à tarde, suor noturno e perda de peso são sintomas comuns. A identificação precoce é fundamental para evitar complicações graves e aumento da transmissão da doença.

 

O diagnóstico precoce é fundamental. Como a população pode acessar serviços de saúde para realizar esse diagnóstico?
A população pode buscar, inicialmente, postos de saúde ou UPAs, para o devido encaminhamento. O IBIT oferece diagnósticos especializados, com métodos avançados como análise de escarro, culturas, teste rápido e raio-X de tórax.

 

Qual a importância da conscientização no Dia Nacional de Combate à Tuberculose para o controle da doença?
O Dia Nacional de Combate à Tuberculose é crucial para alertar a população sobre a importância do diagnóstico precoce, prevenindo complicações graves e a propagação da doença.

 

Como a pesquisa científica tem ajudado a entender melhor a tuberculose e suas formas mais complexas?
A pesquisa tem buscado tratamentos mais rápidos (hoje é no mínimo 6 meses de 4 drogas) e eficazes. O tratamento para infecções latentes (paciente infectado com o bacilo e pode desenvolver a doença ao longo da vida) era de seis e agora é de três meses. Mas todos os tratamentos são longos, precisamos de tratamentos mais rápidos! Precisamos de diagnósticos mais eficientes e de vacinas mais eficazes. Apesar de ser um problema no mundo, e problema menor no Brasil, a tuberculose resistente continua sendo um desafio, exigindo mais estudos e inovações terapêuticas.

Fundação José Silveira
Fundação José Silveira. Foto: Divulgação.

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