Em entrevista exclusiva ao A TARDE, o secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, falou sobre desafios da pandemia no país, criticou o Governo Federal e comentou sobre a possibilidade do réveillon ou carnaval acontecerem. Os trechos selecionados abaixo foram retirados da entrevista completa, que pode ser acessada aqui.

 

Nos últimos 15 meses, o foco principal foi o combate à pandemia. Que avaliação você faz hoje da crise de saúde pública e se o cenário ainda preocupa?

Eu posso fazer dois cenários. Nacionalmente e localmente. Nacionalmente o Brasil se saiu muito mal. O governo federal não soube conduzir a pandemia, atrasou o início da imunização e fez com que o Brasil fosse o campeão mundial de óbitos por COVID-19. A liderança do presidente tem sido muito negativa e isso tem impactado, já que pelo menos 1/3 da população se diz seguidora do presidente e tende a ir na direção contrária à maioria. Isso é muito ruim. Já a nível estadual, e também a nível dos municípios, eu posso dizer que nunca se viu na história da Bahia a união tão evidente entre gestores municipais entre si e com o Governo do Estado. Nós fizemos centenas de reuniões desde o começo da pandemia, às vezes 3 reuniões, cada uma com 30 prefeitos ao longo de um dia inteiro, e sempre houve, na sua imensa maioria, a compreensão deles da necessidade de contribuir, de sacrificar, de lutar contra a pressão feita pelas associações comerciais. Agora nessa fase em que a gente está saindo dessa segunda onda, a gente, quando olha para trás, vê que valeu a pena o sacrifício. A Bahia hoje é o terceiro estado com menor mortalidade do Brasil, praticamente empatado com o segundo, nós temos o sexto menor coeficiente de incidência do COVID no Brasil, ou seja, tem menos COVID aqui do que em outros estados. Não falta medicamento, não falta oxigênio, não falta hospital e ninguém morreu por falta de UTI. As pessoas tiveram acesso a um respirador em todos os locais do estado, e o grande responsável por isso é o governador Rui Costa que trouxe para si essa responsabilidade desde o começo e liderou todo esse processo.

A diminuição do contágio e de mortes por COVID-19 abre margem para pensarmos em “baixar a guarda” contra o vírus?

Abre margens, mas essa “baixa de guarda” tem que ser feita de forma muito responsável, cautelosa, paulatina, e sempre monitorando o impacto disso sobre a taxa de recontágio. Hoje nós estamos começando um processo de flexibilização pactuada com os prefeitos e vamos a cada semana ver de que forma isso está impactando. Se houver um aumento no número de casos, a gente volta atrás.

Países na Europa, por exemplo, estão voltando a fechar e endurecer as medidas por conta do agravamento da pandemia, aliado ao processo de vacinação lento por aqui… Esse cenário mantém o estado em sinal de alerta?

Mantém. Nós temos já evidencia de circulação da variante indiana no Brasil, a gente não sabe como isso vai impactar na nossa vacina, que é diferente das demais, e é por isso que eu acredito que nesse momento não é hora de se fechar hospitais de campanha. A gente pode estar aqui ou ali desativando leitos dentro de estruturas que possuem dezenas de leitos, como por exemplo o Hospital Metropolitano, o Hospital Couto Maia que tem 100, 150, 200 leitos de UTI, a gente pode ir fechando 10, 20, 30… Mas não desativar definitivamente nesse momento.

Como será o réveillon e carnaval? Teremos festas nos moldes tradicionais ou é necessário repensar?

Eu acho que o carnaval ainda é cedo para se tomar uma decisão. Réveillon eu particularmente não acredito que seja possível. Vai depender muito da velocidade da vacinação. A gente tem visto o Ministério avançar e recuar várias vezes, a gente não tem um cronograma, um calendário vacinal confiável. Talvez só 60 dias antes vamos ter condições claras de definir alguma coisa sobre o réveillon e o carnaval.

Leo Prates chegou a falar que no carnaval, por exemplo, as festas começarão a ser mais indoor do que com aglomerações nas ruas como eram até agora. Essa é uma forma de iniciar o planejamento dos eventos?

Com todo o respeito ao meu amigo Leo Prates, eu acho que ele ou não se fez entender direito ou há um equívoco de interpretação. Porque a palavra indoor significa dentro, interno. A última coisa que a gente quer é um carnaval entre quatro paredes, num salão. O contágio vai ser muito maior. Se tiver que ter carnaval, tem que ser na rua mesmo, ao ar livre, ventilado, sem camarote do lado do mar para que o vento da praia venha e espalhe, dilua o número de partículas virais. Um carnaval tem que partir desse princípio básico de ser num lugar extremamente ventilado e com poucas pessoas por metro quadrado. Jamais indoor.