Reconhecida pela personalidade e posicionamentos firmes, Fátima Mendonça, ex-primeira dama da Bahia e esposa do senador Jaques Wagner, conversou com o Anota Bahia sobre o novo tempo do mundo, em meio a pandemia, e suas reverberações no Brasil. O encontro também marcou a estreia de Fátima no mundo das redes sociais – acontecimento que talvez reverbere em novos projetos: “Sendo esposa de um político, a exposição é um dado. E eu não tenho uma paciência longa com o digital, prefiro guardar na memória. Mas, com a pandemia, esse é um mundo no qual eu tenho pensado em entrar – principalmente para compartilhar coisas boas. Eu, que adoro escrever, por exemplo, estou considerando”.

Isolada desde 16 de março, a entrevista aconteceu, através de uma live, direto de Andaraí, no sítio em que Fátima se isolou na Chapada Diamantina. Enfermeira de profissão – “a profissão que me deu régua e compasso” – Fátima brincou com a convivência multiplicada com o Senador Jaques Wagner: “Estamos há 30 anos juntos, e desde o início do relacionamento ele vai e volta de Brasília. De repente, esse convívio repentino é puxado. Ainda bem que ele é fofo, ajuda, é um grande companheiro. E eu desconfio que ele está ainda mais apaixonado por mim”.

Da esfera privada, Fátima pontuou um dos momentos críticos despertados pelo isolamento na esfera pública: “O feminicídio é algo que tem aumentado. Não é certo que uma mulher permaneça ao lado de alguém que a machuque, que a maltrate. Saiam de casa, denunciem, não aceitem!”

Para a ex-Primeira Dama, armadilhas como as impostas pelo coronavírus também impõem graus maiores de responsabilidade: “Eu rezo diariamente em prol da compreensão; nós nos cuidamos, estamos sempre vigilantes com o oxímetro, porque esse é um vírus sorrateiro, invisível. E precisamos nos cuidar. Porque se depender de Bolsonaro, morre todo mundo – é isso o que ele quer”.

Para lidar com o dia a dia e as notícias, Fátima ressalta a importância da atenção continuada com as próprias demandas – mesmo que o mundo provoque insistentemente reações negativas: “Meu coração anda apertado, com esse momento; eu procuro me cuidar – das orações à psicanálise, manter a atenção consigo em dia é importante. Nós somos feitos de escolhas – escolher uma postura e viver de acordo é fundamental”.

Ela deriva para o estado de coisas, no mundo: “Sendo capricorniana e filha de Iansã: esse regime sem fim de intolerância, de violência, essas pessoas que chegam ao ponto de assassinar outro ser humano, como vemos a cada dia nas notícias, e que agora encontraram um eco na Presidência da República – isso, sim, me incomoda e me aflige profundamente”.

O otimismo, contudo, resvala na revalorização contínua da cultura – ela cita o Projeto de Lei Aldir Blanc, que propõe um auxílio emergencial aos trabalhadores da arte, e do qual Wagner foi o relator: “A cultura é o que nos constitui – é primordial, acontece até antes da educação. É a nossa pele e o nosso olhar. A cultura somos nós. Se ela morrer, nós morremos”.