Hernique Carballal
Hernique Carballal. Foto: Divulgação.

No noroeste baiano, na fronteira com o Piauí, um rocha de cerca de 200km está deixando os geólogos tão eufóricos que eles já a consideram uma nova Carajás. Estudos mostram que nessa área, que abrange quatro municípios do semiárido, poderão ser retirados do solo minérios de alto valor, como titânio, cobalto, terras raras, grafita e fosfato. O presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Henrique Carballal, também se mostrou bastante entusiasmado com o potencial da região na entrevista exclusiva que concedeu ao A TARDE. “Diferentemente de Carajás, os minerais daqui têm valor agregado muito maior”, explica. Mas o entusiasmo de Carballal não se restringe a essa região. Segundo ele, a Bahia como um todo é rica em minerais fundamentais para a transição energética. “Sabe aquele ditado do cavalo passando selado? Nós não podemos perder a oportunidade de montar nesse cavalo e disparar em direção a um futuro melhor”. Sabia mais sobre o potencial da mineração na Bahia na entrevista que segue.

Muito se ouve que a Bahia hoje é a bola da vez da mineração no país. O que faz nosso estado estar na vanguarda deste processo?

Primeiro, é importante que todo mundo saiba que a mineração está presente em praticamente todas as coisas. A roupa que você veste tem mineração. Na mesa, não é só o prato e talher que vêm de uma atividade mineral, mas a própria comida possui elementos que são produzidos a partir dela. Seja nos fertilizantes utilizados na agricultura, seja nas vitaminas e suplementos dados aos animais. No caso específico da transição energética, o que parece óbvio precisa ser dito: não existe transição energética sem mineração. Ou seja, você precisa desenvolver as atividades minerárias, identificando e avançando tecnologicamente na utilização desses minerais, para você conseguir realmente fazer a transição energética. Para você ter placa solar, por exemplo, precisa de um conjunto de minerais e processá-los. Para você ter um carro elétrico  precisa de minerais para as baterias elétricas, os transmissores. As pessoas pensam que é o lítio apenas, que ficou muito conhecido. Mas, numa bateria, você tem mais cobre, grafita e níquel do que propriamente lítio. Mas porque a Bahia é bola da vez? Porque Deus foi tão generoso com essa terra que, além de nos entregar riquezas belíssimas do ponto de vista da nossa natureza, a exemplo a Baía de Todos-os-Santos, um povo magnífico com cultura riquíssima, deu também uma diversidade mineral. Mas precisamos aproveitar esse momento da transição energética. Sabe aquele ditado do cavalo passando selado? Nós não podemos perder a oportunidade de montar nesse cavalo e disparar em direção ao futuro melhor.

E como a Bahia pode aproveitar essa janela histórica de oportunidade?

A Bahia é o primeiro produtor brasileiro de energias renováveis. Nós temos um potencial que já está sendo explorado, e temos ainda um muito maior a ser desenvolvido. A determinação do governador Jerônimo Rodrigues, que é o líder desse processo, é que desenvolvamos a atividade minerária, mas que se processe esses minerais na Bahia. Nós estamos, por exemplo, buscando com as riquezas minerais atrair para Bahia uma indústria de placas fotovoltaicas. Estamos trazendo uma indústria de alta tecnologia, uma empresa canadense chamada Homerun Brasil Mineração, que já está com contrato assinado e vai instalar na Bahia duas plantas industriais para produzir películas que, sobre a placa solar, mais que dobram a produção de energia fotovoltaica. Eles não vão produzir aqui a placa, mas já vão produzir essa película que pode ser utilizada no mercado interno e também pode ser exportada. A ideia é que esses minerais possam fazer com que a Bahia traga indústria de alta tecnologia para o estado. O governador se envolveu  pessoalmente e conseguiu trazer, por exemplo, a BYD, para o estado. A BYD não é uma montadora de automóveis, mas  uma fábrica. Os insumos serão produzidos no Brasil. E obviamente esses insumos requerem minerais estratégicos.

Falando de parcerias, o Estado tem desenvolvido algumas estratégicas com a China. Qual é a importância desta colaboração?

A China é uma oportunidade hoje porque demonstra interesse não apenas em predar os nossos minerais. Eles estão vindo como parceiros. Além da BYD, nós temos parcerias com eles em outros empreendimentos na área de mineração. Nesse período agora está vindo uma empresa chinesa para visitar uma área de grafita nossa. E a conversa com eles é no intuito de atrair uma indústria para Bahia. Mas também conversamos com diversos outros países. Se fosse citar todas as línguas que me aparecem aqui, falaria de mais de dez idiomas. Porque é alemão,  russo, árabe… Para nós, pouco importa. O primeiro contrato nosso não foi com uma empresa chinesa, mas com uma canadense. Nós não temos preferência por nação. Faço questão de esclarecer isso, por causa da maluquice dessa polarização no Brasil. Não pensem porque a China é comunista… Não tem nada a ver. Nós estamos interessados no investimento que os chineses estão dispostos a fazer.

E todos esses investimentos têm como princípio fugir das commodities?

Sim, queremos transformar a atividade minerária numa âncora de desenvolvimento industrial. É uma determinação do governador Jerônimo Rodrigues, um sentimento que permeia o presidente Lula de que precisamos reindustrializar o Brasil. O Brasil precisa aproveitar esse momento para construir indústrias limpas. E nós temos diversidade e uma imensa quantidade de minerais estratégicos para isso.  As pesquisas que estamos realizando na CBPM sinalizam um grande teor desses minerais, o que também é muito importante. É um grande momento que a Bahia está vivendo e a determinação do governador é aproveitar isso. Voltando à China, a gente montou uma equipe de trabalho, com representantes de três empresas chinesas e três representantes do governo do Estado. Esse comitê tem empresas de grande monta. Por exemplo, a companhia Sul Americana de Metais, a SAM, que faz parte de um conglomerado chinês que é dono da Volvo. Estamos tratando diretamente com o CEO deles. Só na Bahia, essa empresa vai investir 800 milhões de dólares num mineroduto. Eles estão num processo de produção de ferro em Minas e esse mineroduto vai desembocar na Bahia.

Quais são os minerais considerados fundamentais para a vida moderna que a Bahia produz?

A única produção de vanádio no Brasil na América Latina, por exemplo, é no município de Maracás. Esse mineral é usado para várias coisas, de tinta de automóvel a diversas outras atividades industriais. Na província (área de relevante interesse mineral) localizada  no noroeste da Bahia nós temos  ferro, titânio, cobalto, terras raras, grafita e fosfato. Como falei, grafita, níquel e cobre são mais importantes nas atividades de transição energética hoje do que o lítio. Nós temos também chumbo, zinco, cobalto. Enfim,  estamos com uma grande quantidade de minerais da transição energética. Quando você tem a placa solar, por exemplo, você precisa de silício. O mais puro silício encontrado na natureza é 99,9999%. São seis noves. O nosso silício é 99,9%. Ou seja, 99 mais um 9. Porém, se eu lavar esse silício, ele fica 99,9999%, completamente puro. Porque a contaminação que nós temos que impede essa pureza não está na molécula do silício; está na superfície. Uma placa solar requer silício, as hélices de energia eólica precisam de silício. A grafita, que é um mineral estratégico, nós temos também em grande quantidade aqui na Bahia e com excelente qualidade. Mas, repito, não podemos entregar essas riquezas como commodities para  serem processados lá fora. Qual é o esforço do governo Jerônimo? A gente atrair para Bahia o processamento desses minerais aqui.

Quais são as maiores dificuldades para que isso aconteça?

Vou dar um exemplo. Por volta  de 85% das exportações de rochas ornamentais do Brasil são de rochas da Bahia. Porém, essas rochas saem da Bahia e vão para o Espírito Santo para serem exportadas. Porque lá se desenvolveu uma indústria grande de processamento de rochas ornamentais. Há tempos, 30, 40 anos, no Espírito Santo a rocha era mole e se conseguia, com os equipamentos existentes, cortá-las. Hoje, as nossas rochas hoje são a coqueluche do mercado mundial, porque são translúcidas. Você pega uma placa de granito, que é uma rocha muito dura, quando você corta e lapida, a luz passa. Você já deve ter visto muitos ambientes assim. Aquilo é da Bahia, mas sai daqui para essa indústria porque lá tem os teares diamantados a laser que conseguem cortar essas rochas. Hoje há uma determinação do governador para que crie aqui um polo de rochas ornamentais.

A Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) vai completar 52 anos agora. Qual é a importância da empresa para a atividade minerária na Bahia?

A CBPM foi criada na década de 70 e é praticamente a última empresa do perfil dela. Por que essas empresas foram criadas? Porque o Brasil entendia a importância do desenvolvimento minerário, mas a iniciativa privada, sobretudo naquela época, por não ter tecnologia, não entrava em situações de alto risco. Era preciso que o Estado investisse. Por isso, foram criadas essas empresas para pesquisarem e prospectarem os minerais. A CBPM é uma das últimas empresas que se mantém no Brasil, porque praticamente todo território é requerido, alguma empresa já requereu. Na Bahia, o que a CBPM não requereu de grande valor, já está requerido. A própria concepção de pesquisa hoje não tem mais valor. Porque a CBPM sobreviveu? Porque ela é superavitária. Com o que recebeu de royalties nos últimos quatro, cinco anos para cá, ela consegue se manter. Mas nós estamos reinventando a CBPM, que não será mais só uma empresa de pesquisa. Tanto que estamos dialogando a mudança do nome da empresa. E obviamente a gente ainda vai conversar com o governador. Mas, há um consenso entre os funcionários, de que ao invés de Companhia Baiana de Pesquisa Mineral,  ela passe a ser chamada de Companhia Baiana de Produção Mineral. Porque hoje a CBPM, além das pesquisas que realizamos, em primeiro lugar fomentamos a atividade minerária.  Inclusive, aproveito a grande audiência que o jornal A TARDE tem, para dizer que nós oferecemos serviços de pesquisa. Qualquer empresa que queira, pode nos procurar que vamos apresentar serviços muito mais baratos do que os valores de mercado. Mas, voltando, a ideia é ser uma empresa que, em primeiro lugar, fomente a mineração. Quando vem uma empresa mineradora nos procurar com uma demanda que requer nossa intervenção, o nosso diálogo com entes governamentais ou mesmo na ideia de prospecção de um projeto, nós auxiliamos. Porque a ideia nossa da CBPM é ser uma empresa estatal que visa desenvolver a atividade minerária na Bahia. Em segundo lugar – depois do fomento, da pesquisa – porque nós também somos uma empresa de mineração. Nós vamos participar da atividade minerária. O modelo que nós temos de 51 anos atrás já demonstrou que precisa ser alterado. Vou dar um exemplo simples: uma empresa está sendo negociada por 1 bilhão de dólares numa área de direito minerário da CBPM. A companhia recebe dos 3% dos royalties da produção dessa empresa, o que nos dá uma média de R$ 5 milhões por mês. Porém, essa empresa sendo vendida por 1 bilhão de dólares, a CBPM não recebe um centavo. Não tem cabimento. E se a CBPM fosse sócia dessa empresa e tivesse 10%, por exemplo? Se, com 3%, a companhia recebe 5 milhões de dólares por mês, com 10%, a empresa receberia quase 20 milhões de dólares. Esses recursos poderiam reforçar não só a atividade minerária na Bahia, mas serem aplicados em fundos de educação. Os 10% de royalties da  CBPM seriam depositados nesse fundo de educação e a empresa aportaria um valor equivalente. A ideia é que a governança desse fundo seja de controle social. Ele não seria controlado pela CBPM. A mineração tem que deixar um legado, não apenas gerando renda e emprego, não apenas movimentando a economia local. Mas  também deixar um legado para a educação, que é o grande motor de desenvolvimento social da transformação da realidade. Estamos falando de um fundo anual que pode dar, no mínimo,  R$ 3 milhões para um município. É uma transformação real na vida das pessoas.

Você falou de uma área de grande potencial minerário no noroeste baiano. Quais são as expectativas em relação a ela?

No noroeste do estado, na fronteira com o Piauí, nós temos uma rocha com 200 quilômetros que está deixando nossos geólogos eufóricos. Eles consideram essa área – que abrange os municípios de Remanso, Sento Sé,  Pilão Arcado e Campo Alegre de Lourdes – como uma nova Carajás. Mas, diferentemente de lá, os minerais daqui têm valor agregado muito maior. Lá tem ferro, titânio, vanádio, cobalto, grafita, terras raras e níquel. Para você ter uma ideia, uma tonelada de ferro custa 130 dólares. Uma tonelada de níquel custa 16 mil dólares. Uma tonelada de cobalto custa em torno de 30 mil dólares. De grafita, entre 20 mil e 30 mil dólares. Estamos falando de valores muito altos agregados a esses minerais. Esses valores nos permitem enxergar que vamos ter uma província de desenvolvimento minerário que vai transformar completamente essa região. Mas estamos tendo cuidado. Dentro dessa nova concepção de empresa que te falei, nós criamos uma gerência de desenvolvimento social. O que acontece? Nosso geólogo chega numa área muito distante e ele se depara ali com pessoas que vivem em situação de extrema pobreza, de abandono e que têm direitos. Nossos geólogos, nossos engenheiros de minas, nossos técnicos são naturalmente um ponta do Estado. Por isso, vamos qualificá-los para que identifiquem essas carências e que o Estado possa atuar a partir desses relatos. Estamos fazendo termos de cooperação técnica com diversos órgãos do governo visando colocar a CBPM aberta para políticas públicas que vão além da atividade minerária. Vamos buscar parcerias com a Secretaria de Direitos Humanos, por exemplo. A ideia é integrar o governo. De fato, algumas mineradoras ainda possuem mentalidade atrasada. Uma dessas empresas inclusive foi condenada em Londres por conta da nossa intervenção. Nós entendemos que a atividade minerária deve respeitar, em primeiro lugar, os direitos humanos.

Hernique Carballal
Hernique Carballal. Foto: Reprodução.

A imagem do setor perante a população ainda é muito negativa?

O que as pessoas precisam entender é o seguinte: se você respeita a lei, às técnicas, às normas, não teríamos o que ocorreu em Brumadinho, em Mariana e agora mais recentemente em Maceió. Em primeiro lugar tem que respeitar a legislação ambiental. Nós aqui, de forma alguma, vamos tergiversar sobre isso. Qualquer parceria nossa, qualquer atividade nossa, vai respeitar a legislação ambiental de forma plena. Mais do que isso: nosso entendimento  é de desenvolvimento social. E, se você tem desenvolvimento social, tem desenvolvimento econômico. Nós não pensamos na roda que move a sociedade a partir da economia. A economia faz parte de outro elemento que é a atividade social. Nós precisamos desenvolver a sociedade através do respeito à cultura, às identidades. Não posso tratar um superficiário que pode até não ter legalmente no cartório a posse da terra, mas que está lá há 70 anos, que vive de um jeito próprio de ser. Precisamos reconhecer como aquela comunidade vive e tratá-la com respeito às suas tradições. E, a partir daí, mostrar que a atividade minerária não é predatória

A CBPM, em parceria com outras entidades, vem promovendo campanhas para melhorar a imagem da mineração?

A mineração tem que se comunicar. Uma mineradora não tem concorrência. Quem vai concorrer com a Vale? Como não tem concorrência, muitos CEOs, muitos executivos, se preocupam mais em dar retorno numérico para os acionistas e não percebem que esses próprios acionistas no mundo inteiro estão preocupados com as políticas ESGs, com o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Nós precisamos avançar na mineração, mas também respeitar esses princípios que são fundamentais inclusive para garantir investimento estrangeiro. Vamos começar a ter leis mais duras para essas questões. Você não poderá produzir resíduos, não poderá poluir, terá que respeitar as comunidades tradicionais. As pessoas precisam compreender que lá fora isso é algo muito mais forte do que vem sendo aplicado aqui. Infelizmente essa polarização que colocou no Brasil de um lado os analfabetos da lógica e da razão para negar a ciência e o direito que as pessoas têm sobre isso, essa dicotomia nos atrasa. E quando a gente dialoga sobre isso, essas pessoas acham que vai gerar prejuízos. Muito pelo contrário,  vai trazer mais divisas, recursos.O mundo hoje entende que você só pode desenvolver atividade econômica se desenvolve atividade social.

Para que tudo isso funcione é preciso logística. O presidente Lula pediu aos empresários da Bamin que trabalhem mais, para que a Ferrovia Oeste-Leste e o Porto Sul sejam entregues antes de 2027. Qual é a importância desse vetor de transporte para a mineração?

Na verdade, a Bahia passa por muitos problemas. O processo de privatização da ferrovia demonstra aos neoliberais que fizeram discursos tão enfáticos. Hoje está claro que a privatização representa. O sucateamento da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) é uma demonstração de que, quando você privatiza de forma irresponsável, você entrega o patrimônio público. A bitola que você tem nesta ferrovia hoje, por exemplo, não é a bitola utilizada pelos equipamentos modernos. E não há nenhum tipo de investimento nesse sentido. Houve uma conspiração contra a Bahia que precisamos reverter. Fizemos um estudo aqui com a Fundação Dom Cabral, para demonstrar o que deve ser feito sobre logística. Se nós formos desenvolver economicamente a atividade minerária no noroeste baiano, como expliquei, vamos precisar de logística para escoamento. Por isso, vamos assinar um termo de cooperação técnica com a Marinha e estamos dialogando com a Codeba também, para que a gente possa utilizar o lago de Sobradinho como uma hidrovia de transporte. Precisa ver a eclusa lá, o que precisa melhorar, para que a gente possa utilizar esses potenciais. Mas é preciso também que tenha estrada para  levar esses minérios ao porto. O presidente Lula tratou da questão da Fiol porque temos uma imensa necessidade dela. Além da Bamin, a própria CBPM tem parceria com empresa chamada Pedra Cinza numa produção de chumbo e zinco. Temos ali uma produção de concentrado de fosfato. Nós precisamos da ferrovia e também  resolver esse problema urgente de porto para garantir que a Bahia avance cada vez mais. Mas isso vai muito além das ações do governo do Estado. É preciso pactuar com o governo federal. E é preciso ter uma discussão acerca do controle de setores estratégicos, como as ferrovias, por parte das empresas privadas.

Está prevista a produção de fertilizantes em Irecê a partir do fosfato. Essa fábrica tornará a Bahia independente da exportação de fertilizantes, por exemplo, da  Rússia e da Ucrânia?

Na segunda quinzena de março, o dia vai depender da agenda do governador, vamos inaugurar uma pedra fundamental em Irecê. A ideia é que, a partir de dezembro de 2025, no máximo início de 2026, já tenha a produção de concentrado de fosfato. Eles vão produzir fosfato de uma mina nossa  e ele será levado para uma indústria de alta tecnologia. Será a primeira indústria do mundo com essa tecnologia, que vai separar sem deixar resíduo, sem gerar poluentes. Assinamos também um termo de cooperação técnica com a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) porque o que sobra do fosfato é  calcário, que é um grande remineralizador do solo. Estamos fazendo as tratativas para que esse resíduo seja reutilizado. E estamos procurando as outras mineradoras porque muitos dos resíduos das atividades minerárias são ricos em remineralizadores do solo. Você tem produções de ferro aqui que é rico em magnésio, calcário. Nós queremos dar as condições técnicas e estamos conversando com Senai/Cimatec para que a gente monte uma logística para reaproveitar esses resíduos e serem utilizados na agricultura familiar. Voltando para Irecê, esse concentrado de fosfato vai prover  25% do que o Norte/Nordeste do Brasil consome de fertilizantes. A Bahia, por exemplo, não vai precisar importar mais nada. O agronegócio na Bahia estará privilegiado porque vai ter a garantia de fornecimento do fertilizante de concentrado de fosfato, que é um grande problema nosso hoje de dependência internacional.

Para concluir, quais são hoje os maiores desafios e obstáculos para a mineração crescer no país?

Primeiro, acredito que é a comunicação. As pessoas precisam saber o que é a mineração, a importância que ela tem para que se apropriem dela. Porque quando você torna algo como seu a interferência da sociedade ajuda as boas práticas. Quando as pessoas acompanharem o que está acontecendo com a mineração, a pressão social vai enquadrar aqueles que não querem se enquadrar. A ideia é se comunicar com a sociedade, mostrar a importância da mineração. O segundo grande desafio é a logística. Nós temos um problema grave. E, como disse, essa logística piorou por conta do processo de privatização que se deu no país e que levou a setores estratégicos estarem sob controle de empresas que têm conflito de interesse. “Não interessa muito a gente que a Bahia desenvolva a produção de minério de ferro”. Isso faz com que haja um sucateamento da malha ferroviária que acaba trazendo dificuldade para o escoamento da produção. Porque os chineses querem gastar 800 milhões de dólares e trazer minério de ferro num mineroduto? Porque o minério de ferro tem uma concentração de teor baixo então não se viabiliza para você transportar nem por ferrovia. No mineroduto eles vão empurrar esse minério com água e vai chegar no porto via gravidade. Apesar do investimento, eles vão recuperar esses recursos. Nós aqui estamos buscando criar esse bom ambiente para mineração. Porque esses vários investimentos permitem que as pessoas se apropriem delas. Essa empresa está vindo para minha cidade e qual é o legado, qual é o benefício? Tanto que estamos travando um debate que sinalizamos: olha, mão-de-obra local tem que ser, empresa contratada  local. Vamos dar o suporte para que contratem pessoas na Bahia, empresas do estado. Uma mineradora dessa vai contratar trator, que seja na Bahia. Vai contratar motorista, que ele seja baiano. Engenheiros, geólogos, técnicos, médicos que sejam contratados no estado. Até porque a mineração tem os salários mais altos do mercado. E essa pessoa sendo contratada ali, ela vai gastar ali, desenvolvendo o comércio. Tem toda uma economia envolvida.