Em entrevista a Osvaldo Lyra, para o Jornal A Tarde, o senador Jaques Wagner não perde tempo ao afirmar que a eleição para o governo esse ano vai ser BA-VI, devido a polarização nacional, que impacta diretamente sobre a disputa daqui. Além de negar que existe divergência entre ele e o governador Rui Costa, Wagner admite que eles poderiam “ter jogado mais luzes” sobre o escolhido. “Rui poderia ter apressado mais na escolha de Jerônimo”. Ao alfinetar o ex-prefeito ACM Neto, o senador disse ainda que “em política, o pior lado de se ter é não ter lado”. “Alguém que quer ser governador da Bahia pode não ter opinião sobre a questão nacional? Está querendo enganar quem?”  E completou: “Eu não vejo a menor hipótese de o presidente Lula não ser candidato”. Confira:

Senador, a história é sempre implacável com os fatos, e até agora não ficou totalmente esclarecido o que realmente fez o senhor desistir de entrar na disputa pelo governo do Estado este ano. As divergências com o governador Rui Costa foram superadas? O processo foi conduzido sem maiores sequelas?

A minha decisão tem 8 anos. Quando eu saí do governo eu disse: Rui, faça um governo melhor do que o meu. Eu quero que o povo lembre de mim, mas não quero que tenha saudade de mim. E graças a Deus ele manteve o grupo político nosso no alto. Eu diria até que se o governo dele tivesse sido, por hipótese, um desastre, tivesse ido muito mal, eu até estaria motivado para voltar. Mas não. Ele está com uma avaliação acima de 65%, 70%, a depender do órgão que faz. O nosso candidato nacional tem mais de 70% aqui na Bahia, ou por aí. Então não há oportunidade melhor de você lançar novas lideranças. O real motivo da desistência foi a minha obsessão pela renovação do partido. Nós trabalhamos para fazer Éden presidente do partido, nada contra os presidentes anteriores. Mas eu acho que nós temos que puxar gente da sua geração para ocupar espaço. É só ver quantos que me cercam aqui e ver da faixa etária que eles são. Então, vou repetir, nada contra a terceira idade, até porque eu estou nela, estou com 71 anos. Graças a Deus estou inteiro, física e mentalmente. Então eu acho que a gente já poderia ter jogado mais luzes sobre Jerônimo, por exemplo, que desde a primeira hora se destacou no Ministério de Desenvolvimento Agrário, depois aqui na Secretaria de Desenvolvimento Regional, agora na Secretaria de Educação. O que eu estou querendo dizer com isso? É que eu tinha já essa decisão tomada. Como a gente ainda não tinha o candidato para apresentar em fevereiro do ano passado, eu coloquei que se dependesse do meu nome para a unidade do grupo, assim o faria… Então não teve nada a ver com a questão de divergências com Rui. O único momento que teve diferença foi que havia uma hipótese, pleiteada e sugerida até pelo PP, que era Rui na chapa, reforça a chapa como senador, apesar de que ele nunca tinha pedido para ser senador, ele entendia que deveria repetir o que eu fiz. Bom, e para ele ir, eu comecei a montar aquela coisa: Otto vir para governador e ele ir para senador. Era essa a montagem original. Depois foi com João Leão senador, mas aí não dava para puxar Rui. Que havia gente que defendia, até por aquela questão de idade, geracional, que era interessante ele estar lá. Tentamos fazer isso, Otto, por motivos absolutamente pessoais, o que é um direito dele, declinou da ideia. Foi aquele período que a gente passou. Até que eu disse: olha, tem três semanas que a gente está assim, não dá para continuar sangrando. Então o que eu fiz? Disse: Rui, Otto não topou, já tivemos várias conversas com ele, então nós vamos ter que mudar a tática. E aí para a gente fazer um nome de novo, como eu não vou repetir, é preciso que você fique sentado na cadeira. Foi o que deu estresse com o PP. Apesar de que eu acho que o estresse não justificaria fazer o movimento que fizeram, depois de a gente estar tanto tempo junto. Mas de qualquer forma eu entendi. Eles já estavam fazendo um cenário de Leão sentado 9 meses na cadeira, quando esse cenário desaparece, há uma decepção deles com aquilo que estava sendo construído. E o resto você conhece. Então, nunca houve divergência minha com Rui. Se tivesse havido, ninguém segurava por 8 anos isso aí. Na verdade, seguinte, ele tem o estilo dele, eu tenho o meu estilo. E eu, graças a Deus, quando passei, não fiquei fazendo sombra em ninguém.

 O senhor falou em uma entrevista a mim, do desejo que o governador fizesse o sucessor no governo como o senhor o fez. Rui errou por não ter formado Jerônimo há mais tempo?

Não diria que errou, mas eu acho que Rui poderia ter apressado mais a escolha de Jerônimo. Mas isso já está fora… É óbvio que poderia ter outras hipóteses. Jerônimo ir, por exemplo, para a Casa Civil e ter um grau de exposição maior. Mas, de qualquer forma, se você pegar as pesquisas, pelo menos as internas… Então nem posso falar muito. Quando você cola com o nome de Lula e de Rui, a gente vai para primeiro lugar. Como Otto estoura de voto. Agora, se você botar ele sozinho, evidentemente como ele ainda não tem uma taxa de conhecimento, ninguém vai dizer que vai votar. E ele está tentando fazer uma tese que, na minha opinião, não vai colar. Porque a eleição vai ser BAVI. O BAVI vai descer para o estado. Não adianta ficar conversando fiado. O povo, como eu digo, vota de cima para baixo.

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Jaques Wagner. Foto: Alessandro Dantas.

 O grupo tem feito pesquisas trazendo sempre Jerônimo com o apoio do senhor, de Rui, de Lula. Essas pesquisas saem com resultados viciados, na avaliação do senhor, senador? 

Não, ao contrário. O que é distorcido é quando faz só com as pessoas pura e simples. Porque aí é uma avaliação dos três. Para mim, a avaliação verdadeira, e é o que o povo faz… Quando o povo escolhe um projeto nacional, tende a acompanhar esse projeto nacional na escolha do governador. E não acontece só comigo. Em 2018, quantos governadores foram eleitos que ninguém conhecia? De Santa Catarina, Brasília, Minas, Rio. Quantos senadores foram eleitos que ninguém sabia quem era? Mas é só olhar o que ia dar na pesquisa, e aí quando bateu 17, todo mundo acompanhou. Por que o PSL fez 52 deputados federais? É pelos belos olhos do candidato? Não. É porque o eleitor disse: eu vou com o atual presidente – porque eu não falo o nome dele –, eu vou facilitar a vida do atual presidente. Aliás, alguns países até fazem isso. Elegem o presidente, como a França, e quatro a cinco meses depois é que fazem a eleição da Câmara dos Deputados. Porque eles sabem que: já que ganhou esse, eu não vou perturbar a vida dele, eu vou dar uma maioria para ele governar, e faça se souber fazer. Então não adianta. Essa conversa que o ex-prefeito da capital está falando é conversa para inglês ver, como se diz na gíria, é conto-da-carochinha. Ele sabe que quando a eleição começa a acontecer na cabeça do eleitor, a 30 dias da eleição, porque é só lá que o eleitor vai pensar que tem que escolher, ele vai escolher assim. É assim que funciona. Não é o deputado que comanda a votação de presidente, é o contrário. Se um deputado for contra um presidente bem avaliado aqui, ele prefere não falar nada do presidente. Ele quer o voto dele. Porque se ele começar a entesar com o eleitor, ele acaba perdendo voto. Eu fui eleito por quê? Se eu tinha 3% e meu adversário tinha 70%? Rui foi eleito por quê? Se ele começou com 4% e o adversário dele tinha 70%? É pelos meus belos olhos? Não. É pelo vento que está ventando. As pessoas funcionam assim. Ao contrário, a pesquisa seca só favorece nesse momento ao ex-prefeito. Porque o ex-prefeito diz “eu sou livre, leve e solto, eu governo com qualquer um”. Alguém que quer ser governador da Bahia pode não ter opinião sobre a questão nacional? Está querendo enganar quem? Quer enganar quem? Está tentando enganar. Ninguém come esse H. Não estou falando de Lula. Estou falando de 2018. A gente aqui ganhou mesmo porque Haddad estava bem. Não ganhou, mas estava bem. E porque nós tínhamos um trabalho feito aqui. Mas estou te dando alguns exemplos de estados que vão de Sul a Norte. Tem senador lá que nunca esperou que ia se eleger. Vou repetir: o PSL fez 52 deputados. Dez por cento da Câmara dos Deputados fez um partido que ninguém sabia nem o que era. Só pelo número. Por exemplo, quando eu digo que o adversário que apoia o presidente da república pode chegar em segundo lugar, supondo que a gente chegue em primeiro, é porque ele tem lado. Em política, o pior lado de se ter é não ter lado.

 A candidatura de Jerônimo foi definida mais, parece que passou a embalar realmente com a chegada de Geraldo Júnior e após a vinda do ex-presidente Lula aqui na Bahia. O senhor foi um dos principais articuladores dessa operação. Como se deu esse arranjo com Geddel para viabilizar a vinda de Geraldo?

Primeiro que era natural. Como eu acabei de falar, não vou desmentir o que eu falei, nós acreditamos em um candidato que tem personalidade, com um projeto político. Você sabe que eu sempre defendi isso. Ninguém brilha sozinho. Nós somos uma equipe. Tanto que eu acho que essa fase agora, Jerônimo aparece como representante desse projeto. E modéstia à parte, há 15 anos, já vai completar 16, nós temos muito serviço prestado. Em todas as áreas. Mesmo que os adversários batam, nós temos um portfólio imenso de segurança, educação, saúde, estrada, água, energia, moradia, apoio à agricultura familiar. Então ele é isso. E ele na caminhada vai cada vez ganhar mais personalidade. Então a vinda do Lula, óbvio que ela empurra, como o abraço dele com Jerônimo seguramente empurra, como empurra Otto, como empurra todo mundo, como empurra a chapa de deputados. E a chegada do MDB, com a vinda de Geraldo, evidentemente reforça. Na verdade, eu já tive uma relação com o MDB lá atrás. Houve uma divergência política, eles resolveram trilhar um caminho próprio, não tiveram êxito nessa empreitada. Eu já sabia. Repare, não era muito difícil de imaginar que havia uma possibilidade muito grande deles saírem daquele grupo. Porque o grupo sempre os maltratou. Aliás, o chefe do grupo maltrata todo mundo. Ele gosta de dar grito, ele gosta de servos. Ele não gosta de aliados. Infelizmente é a tradição do grupo. Por isso que eu estou falando. Eu vou comparar o meu grupo com o grupo deles. O que o seu grupo que já teve 16 anos no poder fez pela Bahia e o que o meu grupo fez? Eu democratizei a Bahia. Quem quiser apostar em outra via, vai apostar na volta, inclusive na relação com vocês da imprensa, porque todo mundo sabe como é. Porque todo mundo conhece o dia a dia dali, como é tratar os aliados. Qual foi o aliado que cresceu debaixo daquele grupo? Qual foi o partido político? Nenhum. O MDB foi um que tinha um tamanho e foi reduzido. Então eu busquei reabrir o diálogo, óbvio que eu penso aqui e penso nacionalmente que a nós interessa que o MDB ou declare ou coligue, não sei se é possível coligar por conta de problemas que cada estado tem uma realidade diferente. Então para mim eu não tenho nenhum tipo de dúvida que era importante. E ela foi coroada realmente trazendo o presidente da Câmara da capital para dentro da chapa como vice. É um diálogo com os vereadores, porque eles se sentem representados em uma chapa onde o vice é um vereador.

 A sucessão estadual acabou repercutindo diretamente na vida da própria Câmara daqui de Salvador. Como o senhor tem acompanhado essa nova movimentação na Praça Municipal?

Eu não interfiro. Evidentemente que ele foi reeleito com 35 votos de 43, sendo que na sessão havia 39, se eu não me engano. Então mostra que ele pelo menos internamente na Câmara é uma pessoa com forte representatividade. Ele e o vice. O que aconteceu é que ele era de um partido, era de um projeto, e mudou. Então ao mudar, é óbvio que ele assume um papel, porque até o presidente da Câmara é mais magistrado do que líder de um lado ou de outro, mas evidentemente se o prefeito não conta, não dispõe dele como quiser, então ele está se movimentando politicamente. Então para nós foi um ganho muito importante. Ele é uma pessoa boa de diálogo, boa de entrevista, é um cara que se relaciona super bem, e que óbvio que foi um impacto para o lado de lá. Eles comemoraram que saiu o PP daqui. Bom, nós comemoramos agora que saiu o MDB de lá. E como as coisas vão até julho, vamos trabalhar para ver se vem mais gente.

Jaques Wagner. Foto: Reprodução.

Causa algum desconforto na militância o fato de o MDB estar no grupo hoje ligado ao PT, depois de ter participado tão ativamente do impeachment da presidente Dilma?

Não. Aqui na Bahia não. Porque se eu for escolher que só se junta com a gente quem não participou do impeachment da Dilma, sobra pouca gente. Aqui na Bahia não, repito, e eu me orgulho muito disso, porque na época os três senadores, incluindo Otto Alencar, os outros eram nomes do time obrigatório, que era PSD e PP, mas todos os 24, se eu não me engano, deputados federais nossos nos acompanharam. Então se fosse por isso… Quanta gente participou do impeachment e que entrou em um dos nossos partidos? Não no PT, mas gente que entrou no PSD, PP. Aquilo que eu digo ao presidente Lula: você não vai fazer política olhando no retrovisor o tempo todo. Então para mim não tem mal-estar nenhum, eu acho que teve uma ruptura política, não foi pessoal. E agora a gente recompôs. Eu só sei fazer política assim, como o presidente Lula faz. Eu sei que quem está fora da política às vezes pensa “ah, mas o cara estava com você, foi para o lado de lá, agora está voltando”. Se está voltando é porque está reconhecendo que aqui é melhor para trabalhar política do que lá.

 Muito se fala que o ex-presidente Lula pode não disputar a candidatura ao Planalto, e um dos nomes cogitados para substitui-lo seria o senhor, já que Haddad está em campanha para o governo de São Paulo. Até onde essa especulação é verdade?

Essa é uma grande fake news que soltaram. Talvez a maior de todas. Eu não vejo a menor hipótese, a não ser que seja uma questão de saúde, a menor hipótese de o presidente Lula não ser candidato. Pela vontade dele, pela vontade da família dele, pela vontade de todos os aliados. Porque o patrimônio político eleitoral não é meu, do Haddad até um pouco mais, porque ele teve 47 milhões de votos na última eleição. Mas o patrimônio político eleitoral é do presidente Lula. E que, na verdade, até para mim, demonstra uma garra, uma determinação de voltar à presidência não por uma motivação nem de “fígado”, como se diz, de rancor, nem por uma motivação de vaidade, porque a vaidade dele já está muito preenchida com os 8 anos que ele foi. Mas muito mais para corrigir o desatino que entrou no nosso país.

Não. Repare. Olha, eu não vou dizer que a gente vai ganhar no primeiro ou no segundo turno. Isso para mim é precipitação e arrogância. Eu acho que a gente tem que ter a sandália da humildade para caminhar. Nós somos os preferidos nesse momento no primeiro e no segundo turno. Ganhar no primeiro turno pode depender de um voto. Porque na verdade para ganhar no primeiro turno é 50% mais um dos votos válidos. Então é impossível prever se eu ganho ou não. Eu não sabia que eu ia ganhar no primeiro turno. Na reta final, como naquela ocasião de 2016, houve a polarização, e eu disse: ou eu ou ele. Porque estava polarizado entre dois. Fui eu, com 52 ou 53%. Veja, é muito perto sempre. Rui ganhou de 74%. Mas porque o outro candidato foi fruto da desistência do atual candidato, que fez isso de uma forma totalmente atabalhoada. No último dia tirou o ex-prefeito de Feira. Ou seja, uma operação política totalmente equivocada. E ele estava com um governo muito bom, então por isso a gente foi. Em geral… Por exemplo, quando eu perdi em 2002, acho que foi 54% a 46%. Quando eu ganhei foi 52% ou 52,5%. Na minha reeleição é que eu fui para 64%. É óbvio que se você tira os votos do Moro, o público do Moro, provavelmente uma ampla maioria, se identifica mais com o atual presidente do que conosco. Por causa dessa coisa do falso moralismo, essas coisas todas. Então para mim se vai agora no primeiro turno pela desistência dele, ou se iria depois lá num eventual segundo turno, porque ele não estaria no segundo turno, para mim tanto faz. É a mesma coisa.