Eleito para gerir a cidade de Mata de São João pela terceira vez, o empresário João Gualberto diz que o resultado das urnas mostrou a confiança das pessoas nele e no seu governo. Para o tucano, o seu maior desafio será a geração de emprego e renda na cidade. “Mata de São João se consolidou como um destino turístico nacionalmente”, disse ele neste entrevista concedida ao A Tarde Municípios desta quinta-feira (17), ao elencar os desafios que terá pela frente.

O que o levou a disputar a prefeitura de Mata de São João? A então candidata do grupo, Lulu, não tinha condição de manter os avanços do município?

Olha, se somaram duas coisas: na minha ausência, algumas coisas que houve lá no município, no lado político, muita fake news contra mim, e veio do grupo da então vice-prefeita. Isso me assustou, de fato. Como é que estavam fazendo isso. Isso porque eu já tinha anunciado antes de viajar para os EUA que ia ser candidato. Mas a gota d’água foi realmente a pandemia. Sem a pandemia, em situações normais, eu imaginava que ela poderia, eu não posso ser eternamente prefeito, então a pessoa poderia. Então, pode acreditar com 100% de convicção que eu só voltei a ser candidato com a pandemia. É tanto que a primeira vez que eu fui em Mata de São João este ano foi em setembro. Eu fui para resolver o problema do título no dia 2 de abril e depois só voltei em setembro. Então eu não fiz pré-campanha, eu não fiz absolutamente nada. Do jeito que em 2004 teve um desafio muito grande, o município arrasado, agora não posso deixar a voltar o que era, e por isso fui candidato.

Como avalia a vitória conferida pelas urnas?

Veja que eu era um candidato que estava afastado do município por dois anos, seis meses morando fora, que não fez pré-campanha, eu praticamente fiz só a campanha, 45 dias de campanha, foi quando eu participei de fato da disputa. Eu acho que o resultado das urnas mostra a confiança que as pessoas têm no nosso governo. Eu tive uma votação um pouquinho superior a que Marcelo teve na reeleição dele. É claro que depois de 16 anos tem um certo cansaço das pessoas, mas mostra, sim, a grande maioria que confia na nossa administração e por isso votou para manter a administração que existe hoje.

O que você aponta como principal avanço e principais gargalos hoje em Mata de São João?

Olha, o principal avanço foi inegavelmente a educação. Hoje mesmo recebemos um prêmio. Ficamos em primeiro lugar na Bahia. Então quem saiu do último lugar do Ideb para o primeiro lugar tem que comemorar. E não é só isso, não. É ter 90% dos alunos no turno integral, o que não existe no Brasil. No país não existe nenhum município que tenha 90% dos alunos em tempo integral e só não terminou este ano em 100% por causa da pandemia. No próximo ano vamos ter 100% em turno integral, não existe isso no Brasil. E isso é vivido exatamente através do MEC, que mostra que nós temos o melhor Ideb da região metropolitana, na frente de Camaçari, São Francisco do Conde, os municípios ricos, que têm dinheiro, além de Salvador. Então, o grande avanço e o grande desafio é a educação. Lógico que tem muito para melhorar ainda. O meu desafio é muito grande, porque melhorar o que está numa situação melhor do que os outros, o desafio é enorme. A saúde também, eu acho que nós temos hospital, nós temos uma resolutividade muito grande na saúde, nós temos 100% de cobertura na saúde da família, são poucos municípios que têm 100%. Nós temos equipamentos de alta complexidade, como tomógrafo. Então nós melhoramos muito, muito a saúde… A infraestrutura, é inegável o que nós fizemos, o esgotamento sanitário, até coisa que não são obrigação nossa, isso foi no meu segundo governo que eu fiz o esgotamento sanitário, 65% da cidade tem o esgotamento sanitário feito com recurso do município, não foi feito com a Embasa, e hoje é administrado pela Embasa. Então nós melhoramos em todas as áreas, no turismo nem se fala. Mata de São João se consolidou como um destino turístico nacionalmente. E um município difícil, porque você sabe, você é frequentador de Praia do Forte, nós estamos a 60 km de uma capital de mais de três milhões de habitantes, as pessoas vão e voltam. Então você manter um município e você ver vários municípios que viram moda no passado, viraram moda no passado e depois acabam. E Mata de São João, quando eu assumi em 2005, era aquele município que tinha tido a moda, Praia do Forte, de vila, pitoresca, estava caindo. Era só ver o Réveillon, São João não existia, e hoje você vê os hotéis com ocupação muito boa durante todo esse período, o crescimento da rede hoteleira, então melhoramos muito no turismo. Na geração de emprego nós fomos até 2012, quando eu acompanhava, a região que mais criou emprego em todas as áreas, em todos os indicadores que são medidos pelo governo federal, por instituições como a Firjan, você vai colocar Mata de São João sempre nas primeiras colocações.

O que pretende colocar como prioridade a partir de 1º de janeiro?

Os desafios são muito grandes. Eu falei para mim mesmo: eu não quero fazer mais do mesmo. O meu maior desafio, na verdade, será a geração de empregos em Mata de São João. Claro que vamos continuar avançando na educação, vamos continuar na infraestrutura, vamos continuar na saúde, mas isso é fazer mais do mesmo. Meu desafio é gerar emprego e renda que diretamente não depende muito do município. Eu quero ver a economia inovadora, então eu quero atuar muito na geração de emprego. Eu vou ficar muito feliz se eu conseguir melhorar muito esse cenário, levar empresas grandes e pequenas, ver como que faz para elas crescerem. Então esse é meu desafio que eu estou estudando tudo. Eu morei seis meses na Califórnia, onde lá transpira inovação, criatividade, etc., então é ver como conseguimos colocar a economia criativa para valer, iniciar o processo, e esse é meu grande desafio.

A gente percebe duas realidades muito diferentes de Praia do Forte, como balneário, e da própria sede de Mata de São João. Existe a necessidade de unificar um pouco mais as duas realidades?

Olha, você tem que comparar, na verdade, Mata de São João com Dias D’Ávila, Pojuca, Catu, que são realidades parecidas. Quando você coloca Praia do Forte, que é um destino turístico conhecido mundialmente, que hoje tem muita segunda residência, não dá para você comparar. Vamos comparar Praia do Forte e a sede, tem vários municípios no Brasil e no mundo que tem determinado destino que sobressai em cima do município, então não dá para se comparar. Você pode comparar até a unificação do município, eu acho que existe, mas a distância faz com que a geração de emprego no litoral não atinja muito a sede, por isso que esse vai ser um desafio maior. Como é que eu vou gerar emprego em Mata de São João? Mata de São João concorre com quem, com Simões Filho, para levar indústria, com polo CIA, o Centro Industrial de Aratu, e concorre com Camaçari. Salvador, Simões Filho e depois Camaçari. Então esse é nosso desafio, nós estamos a 60 km da capital, é um polo logístico. A gente leva desvantagem. Já busquei várias pessoas para levar para fazer um polo logístico, mas as pessoas preferem Simões Filho, Salvador, a BR, que começou com Pirajá basicamente, depois mais um pouquinho a BR, o Centro Industrial que tem vários terrenos, Camaçari, então esse é o polo logístico. A comparação da sede com o litoral não dá para você fazer, pois nós estamos comparando 30 mil pessoas com duas mil pessoas, com uma comunidade muito pequena.

Além de político, você também é empresário e comanda um grupo importante no estado. Como você avalia o impacto da pandemia sobre o setor produtivo?

Olha, eu acho que depende do setor produtivo. Atingiu o setor diferentemente. Eu acho que o setor de entretenimento foi o que mais sofreu, aí depois o de transporte, aviação, hospedagem… O meu setor, de supermercados, particularmente cresceu. O varejo de fato não sofreu, e não foi no Brasil, foi no mundo todo, por ser uma atividade essencial. Você vê que na Alemanha vai fechar, se eu não me engano, no dia 16 até o dia 10 de janeiro, e fica aberto farmácia, supermercado, etc. Então nosso setor realmente não sofreu, só tivemos muito trabalho, muita adequação foi feita. Você não ouve falar em pandemia que teve no supermercado com tantos funcionários trabalhando e atendendo a população. Nós nos enquadramos perfeitamente, fizemos o impossível e o possível, mantivemos porta aberta cumprindo nossa função de atividade essencial, e aí lógico que nosso setor cresceu muito este ano, principalmente os supermercados, onde a gente atua basicamente.

O setor de mercados e de alimentação nunca faturou tanto como nos tempos da pandemia. Como avalia a pujança e a forma como esse setor atuou nos últimos meses?

Nós crescemos aí, dependendo da empresa, de 10% a 20% no máximo. A gente cresceu de fato, mas aumentou muito o custo nosso. Para você manter as lojas abertas, o distanciamento, as operações, insumos, álcool em gel… Então aumentamos muito o custo. Realmente aumentou o nosso faturamento, é claro, é natural, as pessoas ficaram em casa consumindo mais supermercado. A nossa empresa já vinha atuando pelo e-commerce e cresceu muito pelo digital. Eu vejo empresas aí concorrentes nossas que não cresceram tanto, nós crescemos. Quem saiu na frente no e-commerce, que aqui na Bahia tem o Hiperideal e o Pão de Açúcar, que só tem duas lojas, realmente quem tem tecnologia envolvida, quem estava na ponta, realmente cresceu na venda. Eu não espero que essa pandemia, a segunda onda como estão falando, demore, espero que a partir de fevereiro esteja normal. Eu acho que essa segunda onda, acho que as pessoas vão se conscientizar e vão se segurar em casa, vão restringir as festas. Você vê que dois meses atrás estavam anunciando festa em Trancoso, ilimitada, e eu acho que não vai acontecer isso. Acho que vão segurar, essa segunda onda, com fé em Deus, vai ser pequena e nós vamos ter a vacina brevemente.