Baiana radicada em São Paulo, isolada em função da pandemia, a Relações Públicas Jú Ferraz conversou com o Anota Bahia sobre as perspectivas de um mundo que atravessa uma crise imprevista: “Infelizmente a vida não vai voltar a ser como era. É um tempo presente inédito, e nós já estamos fazendo um trabalho de ressignificação enorme – a maioria sob a orientação do cuidado com a saúde. Mesmo quando as coisas forem retornando, a saúde precisa – e vai – assumir um protagonismo total”.

Diretora comercial da Holding Clube, o maior grupo de Live Marketing do Brasil, e gestora de 11 empresas conhecidas nos seus respectivos segmentos do mercado, como Pazetto, Cross Networking e Banco de Eventos, ela compartilhou com o Anota Bahia os primeiros passos após a deflagração do coronavírus: “Perguntamos aos clientes como eles enxergavam as marcas durante a pandemia. Algo que se destacou foi a intenção de investir em eventos apenas se fossem ligados à causas que auxiliam no combate da pandemia. Outra mudança significativa será os modos de fazer com que a experiência física ressoe no mundo virtual, já que não poderemos contar com aglomerações. A Holding Clube, com o Live Marketing, está assumindo o protagonismo desses eventos que estamos chamando ‘Ao Line’. Será uma combinação, mas os eventos não vão deixar de existir”.

A reinvenção das experiências de consumo e compra, para Jú, ecoam renovações da esfera privada, doméstica, que reassumiu a importância nos últimos cem dias: “A pandemia fez com que a gente voltasse ao simples – mesmo com o digital, o imperativo da tecnologia para nos conectarmos, nós estamos valorizando a família, a cozinha”. A renovação implica em novas visões para o mercado: “Os hábitos de consumo viraram de ponta cabeça. As marcas precisarão de uma abordagem muito mais próxima do consumidor, com engajamento e clareza no seu papel na comunidade. É importante lembrar que, com o digital tomando conta, todos nós, e todas as marcas, se tornaram veículos. E a consciência do que se fala é fundamental”.

Para Jú Ferraz, no entanto, todas as novas práticas não deixam de apontar para a preponderância das relações humanas: “Outro paradoxo do domínio do mundo cibernético é que ele nos lembra de que estamos falando, vendendo e nos comunicando com pessoas. Os valores humanos precisam ser o foco de tudo o que fazemos, com seus medos e dúvidas. As marcas vão ter de fidelizar clientes através de relações verdadeiras, com as pessoas assumindo suas empresas e defendendo suas causas. A pandemia acentuou o senso de prioridade de ações que preservem o consumo mas ressoem positivamente na sociedade, por exemplo. Resiliência e humildade para compartilhar as dificuldades, os problemas e as necessidades são primordiais”.

Para o mundo pós-pandemia, a visão de Jú é que os novos processos e condutas vão se espraiar de modo incontornável: “As pessoas vão querer se proteger, e essa é uma tendência irreversível. A tendência mundial do Drive-In, por exemplo, é um novo modo de comportamento que veio para ficar. Assim como as lives – um fenômeno que já existia mas nem sonhava em conquistar esse regime ostensivo e multiplicador”. Ela também ressalta o papel fundamental dos produtores, influenciadores e empresários neste novo mundo: “Qualquer produtor de evento precisa priorizar a saúde e o bem-estar do próximo. Por isso as experiências da Holding já estão abraçando todas essas novas adaptações, propiciando maiores participações domésticas, inovações para pensar as novas relações”.

“O calor e o contato, os olhares e as trocas, contudo, seguem passando na frente. Esta talvez seja a crença mais forte de Jú Ferraz – uma aposta na humanidade: “Sigo acreditando muito no beijo, no abraço, na presença. Então o digital não vai substituir inteiramente nossas experiências, de forma nenhuma. Voltaremos a viver, mas com cautela e um sentido responsável de proteção – conosco e com o próximo. Porque a gente precisa enxergar o todo. Não é possível nos preocuparmos apenas com o indivíduo. Não existe mas ‘Eu’. Só ‘Nós’!.