Era uma quinta-feira, em Salvador, e a empresária Lia Ferreira não se programou para jantar no seu restaurante predileto, também não estava de malas prontas para uma viagem com a família, sequer escolheu uma composição de looks para usar e nem tinha programado uma big-festa para comemorar seus 61 (assumidíssimos) anos, completos hoje (17). Não fosse a pandemia, ela com certeza estaria assinalando algumas das opções acima. Mas ela nos atendeu pelo telefone, mesmo que tarde da noite, e nos relembrou fatos marcantes da sua vida. Lia é o retrato mais fiel do colunismo social na Bahia e se isso parece óbvio, não se engane, ela é totalmente fora da curva, por mais que atravesse gerações sendo admirada – e noticiada, é claro.
Ela viu Santa Dulce dos Pobres, incansável, passeando pelas ruas da Cidade Baixa, onde moravam suas avós, pedindo ajuda para suas obras. Ouviu de Antônio Carlos Magalhães o conselho de que deveria se preservar e passar um tempo sendo mais discreta, sem ser tão alvo de notícias sociais. E agradeceu a Ivete Sangalo quando a mesma a disse que queria ter seu tamanho bom gosto para fazer compras em uma loja de objetos de decoração e utilidades para casa. E as histórias seguem. São muitas. Formada em Pedagogia, pela Universidade Católica do Salvador, ela assume que não era o curso da sua vida, mas queria se formar, na época, o mais rápido possível, e assim o fez. Mas de nada serviu a profissão, pois com 23 anos, antes da formatura, foi substituir um dos seus irmão, que estava saindo de férias, na empresa de transporte da sua família, e sua vida mudou: “Ele foi acompanhar as Olimpíadas de Los Angeles, me pediu para cuidar do setor financeiro neste período. Sentei-me naquela cadeira e nunca mais levantei”, nos disse, ela, inclusive, mantém uma rotina de trabalho até hoje, administrando empresas da família.
Precocemente, ela diz, se casou aos 25 anos: “Eu era muito nova e imatura. Casei e acabei me separando 5 anos depois, só depois disso vim realmente conhecer a vida, o mundo e a noite, sem nunca deixar de trabalhar”. Ao engatar romance com um empresário que comandava uma boate em Salvador, Lia se tornou conhecida, vista e revista: “Virei uma espécie de anfitriã do espaço, uma primeira dama, então fiz muitas amizades e comecei a manter relação com as colunistas sociais da época. E aí começou essa coisa: era foto no jornal semana sim, semana também”, conta aos risos. De lá para cá, nunca mais perdeu a visibilidade. “Pode não parecer, mas sou tímida. Ao mesmo tempo que gosto de ser notada e observada, tenho receio de ser julgada. Mas gosto mesmo é de oferecer uma palavra de conforto, de educação, um sorriso, a todas as pessoas”, conta.
Lia, por exemplo, é habitué de incontáveis restaurantes na capital baiana, e, consequentemente é bem recebida por maitres e garçons em todos eles, justamente por esse tratamento atencioso com todos. Dona de um estilo muito próprio, algumas vezes extravagante, mas sempre marcante, ela tem uma relação íntima com a moda: gosta de bolsas, de joias, de óculos, de vestidos, ou seja, de tudo. Certa vez, quando estava na extinta Daslu, em São Paulo, foi até manchete de uma matéria sobre isso na Folha de São Paulo. A única mulher de uma família com três irmãos, ela não teve filhos, e mesmo que isso não tenha acontecido por opção, ela garante que não se arrepende: “Meus sobrinhos são meus filhos, faço tudo com eles e isso me supre. Como não me casei novamente, apesar de ter tido diversos e longos relacionamentos, a maternidade acabou não acontecendo”, cita. Sobre a data de hoje, seu aniversário, ela diz que sempre gosta de comemorar: “Claro que não faria uma festa, como já fiz, recebendo 500 convidados e assumindo meus 40 anos, quando mulher mal falava sobre idade. Mas queria sim celebrar com meus amigos do coração. São poucos. Eu, inclusive, ainda preciso aprender a dar mais assistência as minhas amizades, assumo, mas os amo e gostaria de comemorar com eles”, finaliza.