Depois de escrever sobre relacionamentos, encontros e desencontros em textos na internet, a publicitária Liz Passos, criadora do blog Coisas de Liz, lança seu primeiro livro “Um Encontro Inesperado”. Desta vez, a escritora fala de um amor diferente:, o que ela adquiriu pela vida, desde um encontro assustador e inesperado com um diagnóstico de Linfoma Não-Hodgkin. Ela conversou com o Anota Bahia sobre o processo que resultou na obra, a ser lançada na próxima quinta (5), no 11º andar da Casa do Comércio. Confira.

 

Quando você se tornou escritora e quando decidiu contar a história que preenche Um Encontro Inesperado?

Desde 2009 eu tenho um blog sobre relacionamentos, o Coisas de Liz. Recebi um prêmio por ele, em São Paulo, mas muitos destes textos estavam sendo plagiados. Então eu resolvi, no início de 2015, publicar em livro uma coletânea dos melhores textos. Mas desde 2009 eu tenho essa atuação pública como escritora – apesar de sempre ter gostado. Só que 2015 veio com o pé na porta, e em setembro, enquanto terminava de organizar esse livro, eu descobri o câncer. E aí eu parei tudo – uma notícia dessas paralisa a vida completamente, e você ou chora, ou luta. Ou os dois. E eu encarei a situação enquanto missão, decidi contar o que eu passei e o que mudou, em mim: a doença realmente me curou de muita coisa. Porque, entre relacionamentos, trabalhos e boletos, não há nada mais importante na vida que nossa saúde. Porque, diante da iminência da morte, tudo fica tão pequeno. Quando o câncer apareceu eu passei a ver o mundo de outra forma. E eu quis contar isso.

O relato que está no livro vinha sendo compartilhado com a pessoas próximas a você ou também é inédito para elas?

É inédito! Inclusive, acho que acabei me expondo demais, porque o livro foi escrito sob efeito de fortes drogas, porque eu chegava da quimioterapia e me punha a escrever. Então o processo foi como uma terapia, ao mesmo tempo em que, na minha cabeça, o resultado já era parte de um livro. E claro que as pessoas próximas acompanhavam as coisas explícitas da situação, mas o relato do livro, não. Foi surpresa até para minha mãe.

A relação entre medo e coragem ocupa um espaço significativo no seu relato. Eles apareceram juntos?

No primeiro instante, é só o medo. A notícia é tão forte que eu pessoas fossem achar que eu morri dela. Mas durante o processo ele permaneceu, é fundamental. Porque o medo é sinal de respeito, e a partir dele se percebe que você tem uma doença, mas a doença não te tem. O medo faz nascer o cuidado e a disciplina. E daí chega a coragem. Andam bem juntinhos: um impulsiona a outra.

Você diz que a doença te curou e te ensinou muito. Como esses ensinamentos participam, hoje, do seu cotidiano?

Claro que, no primeiro momento, a gente percebe e imagina todas as mudanças com tudo que está errado na vida. Mas ninguém vira um ser humano perfeito apenas porque passou por algo assim – os defeitos, os dias ruins, os erros, crises e tristezas permanecem. Mas hoje eu dou um peso diferente a cada uma dessas coisas. Terminar um relacionamento, depois de todo o processo, não vem com o peso que tinha antes – é só lembrar do que realmente importa, na vida. Mas eu continuo sofrendo por outras pessoas, convivendo com dores – o que muda, fundamentalmente, é o modo de ver, e rever, cada acontecimento e cada desafio instaurados pela vida.