
É preciso de muita criatividade e disposição para explorar novas sonoridades e unir vários elementos musicais, como o frevo, samba-reggae, ijexá, rock e ritmos afro-brasileiros e afro-latinos em uma unidade sonora. Não à toa, o cantor, compositor e multi-instrumentista Luiz Caldas é considerado o Pai do Axé, gênero que já criava fagulhas com a guitarra baiana de Dodô e Osmar, mas que se desenvolveu com a sensibilidade de Luiz – enquanto tocava no Tapajós e Acordes Verdes – e ganhou projeção nacional em 1985, com o lançamento do álbum “Magia”. Em 2025, esse movimento cultural e musical completa 40 anos e, pensando nisso, o Anota Bahia conversou com o pioneiro Luiz Caldas, que contou detalhes do início e essência da Axé Music, cultura baiana e sua expectativa para o Carnaval 2025.
A sua história e a história do Axé Music se entrelaçam, essencialmente pelo fato do seu som ter aberto portas para algo maior, um gênero musical. Quando em 1985, você decidiu lançar o álbum Magia, você já tinha essa percepção de estar fazendo algo inovador para o cenário da música brasileira? Como foi esse processo?
Eu sabia que eu estava fazendo um disco inédito, de canções novas e com roupagens novas diferentes, tanto nos arranjos, na sonoridade. Eu sabia sim que eu estava fazendo um disco diferente de tudo que tinha no mercado, porque era a minha única chance de ter sucesso e não existia nada para que eu pudesse copiar. Esse disco ele é original, ele é matriz. Então não tem como eu dizer o exemplo, ‘ah esse disco eu copiei de tal estilo’, não, não rola isso, ele já nasceu inovador. A importância do estúdio WR no processo é que eu trabalhava no estúdio, e Rangel era o dono do estúdio. A banda que gravou comigo, Acordes Vezes, também trabalhava no estúdio. Então, tudo convergia para que a gente conseguisse uma grande sonoridade, um grande som no disco. Rangel foi importante demais nisso. Rangel, Nestor Madri e Fernando Gundlach foram pessoas importantíssimas. Roberto Santana vem depois, na construção da divulgação desse disco, de levar esse disco junto comigo para todo o Brasil.
Mesmo sendo conhecido pelo Axé Music, você navega por várias vertentes. Magia misturava diferentes ritmos, incluindo elementos latinos e frevo. Como você enxerga essa fusão musical e sua influência no Axé?
O disco “Magia” mistura vários ritmos, mas misturando todos juntos numa música só. Isso não é como hoje em dia que são feitos tipo mosaico, entendeu? Primeiro entra um e depois entra outro, depois outro. No caso dos arranjos que eu fiz para a canção, no Axé Music, no caso para o disco “Magia”, essa junção que eu fiz foi de música para música. E cada música tinha ali todos esses elementos que eu escolhia para cada canção, vamos dizer assim. De uma certa forma também foi nascendo, tocando, né? Os arranjos, a gente tocando, tudo isso foi tomando um corpo bem melhor, bem legal, assim, sonoramente falando. Essa a fusão musical é que é toda espinha dorsal do movimento que é o Axé Music.
Este ano, para além dos 40 anos do Axé Music, são 40 anos desde o lançamento de “Fricote”, um grande sucesso do álbum. Qual sua relação com a música atualmente e como você encara a questão de alguns versos serem vistos, hoje, como problemáticos?
“Fricote” foi um grande sucesso, uma canção emblemática. Muito mais emblemática do que problemática, porque ela é a cara do Axé Music, foi ela que deu o start a esse movimento que é tão rico e que, por sua vez, deu voz até os tambores também, de uma certa forma para o Brasil. Então eu não vejo dessa forma. A música foi feita numa época em que a sociedade cantava essas canções, existiam programas de televisão humorísticos, como os Trapalhões, que tinha Mussum que era negro. Então hoje em dia eu não canto mais a canção, por questão de fortalecer esse novo rumo que é muito mais saudável para a sociedade mundial, que é acabar com o preconceito, com racismo, com todo esse tipo de coisa.
Receber o título de “Pai do Axé” tem um peso gigante, principalmente pela sua vasta contribuição para esse gênero musical. Como esse título te impactou ao longo de toda sua carreira? Há novos nomes que te chamam atenção?
Ser chamado de pai do Axé impactou de uma forma muito positiva na minha trajetória. Afinal de contas, eu realmente sou o cara que deflagrou esse movimento cultural baiano. Então eu vejo de uma forma muito positiva. Eu não poderia citar agora algum artista novo da Axé Music, como também não poderia citar de samba, de rock. É meio complicado, isso não nasce de uma hora para outra, as coisas precisam de maturação. Muitas vezes até um próprio artista que muita gente acha que é novo, já está ralando aí há mais de dez anos para tentar conseguir alguma coisa.
Transbordando o universo musical, o Axé Music e a musicalidade da Bahia já se uniram à cultura baiana de uma maneira irreversível. Como você vê a contribuição do Axé para a cultura baiana, e vice-versa?
A contribuição do Axé para a cultura baiana é muito rica. Olha o tanto de artista que o Axé Music impulsionou a carreira. É muita gente boa. E a cultura baiana influenciou o Axé Music porque nós que somos compositores, nós somos cronistas, né? E a Bahia, a cultura da Bahia, ela nos mostra coisas maravilhosas o tempo todo. É só prestar atenção e escrever.
No dia 26 de fevereiro você vai abrir o Carnaval de Salvador com o Baile do Luz. Como está sua expectativa para este show e como está sua programação para os seis dias de folia?
A expectativa para o show do dia 26 é a melhor possível. Muita energia concentrada e os ensaios estão indo a todo vapor. Vai ser muito legal e com certeza isso tudo vai refletir nos seis dias de folia que a gente vai se apresentar aí, nesse Carnaval maravilhoso. Esses ensaios ajudam a fomentar o meu verão, meu carnaval e o da Bahia também. É um momento em que eu posso testar canções e ver o que realmente eu posso utilizar de uma forma legal, durante o Carnaval, e alegrar as pessoas que gostam do meu trabalho. Então já são momentos no calendário do Verão Baiano que os meus fãs aguardam e eu também ansiosamente.
Neste ano, Pierre Onassis será o convidado do baile, assim como em anos anteriores você trouxe Saulo e o Bailinho de Quinta. Como escolhe os artistas que participam com você?
A escolha ela passa primeiro pelo meu coração. Eu tenho que gostar muito do convidado, porque essa festa é uma festa, minha casa. Então eu convido as pessoas que eu amo. Pierre Onassis é um irmão que eu tenho de muitos anos, é um compositor de mão cheia e um cantor fora de série, Com certeza o baile vai ser maravilhoso.

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