A pandemia de Covid-19 modificou estilos de vida e rotinas. Medos, incertezas, novos modos de relação com o outro são alguns dos motivos para toda esta transformação. Diante deste novo contexto e novo espaço-tempo, pesquisas revelaram o aumento no consumo de álcool no país. A Global Drug Survey – que anualmente faz um dos estudos mais completos sobre o consumo de drogas no mundo – mostrou que, na pandemia, 41% dos brasileiros disseram ter aumentado o número de dias em que consomem álcool.  Entre as razões apontadas pela pesquisa estão o tédio e o tempo disponível em casa.

A psicológoca e psicanalista Maria Eugenia Nuñez, que atua na área de dependência e adições há mais de 20 anos na Bahia, chama atenção para o aumento de consumo durante a segunda onda da pandemia: “Após mais de um ano, muitos pacientes, que conseguiram se manter equilibrados ou com controle na primeira onda, começaram a apresentar sintomas de descontrole, apresentando crise de ansiedade, irritabilidade e angústia. É perceptível o aumento do uso não só de álcool, mas de outras substâncias psicoativas”, pondera Nuñez.

Ela diz que o uso de substâncias psicoativas pode se apresentar para alguns como uma solução, mas pode acabar sendo um problema. Para aqueles que já têm uma relação problemática com o consumo, a falta ou mudanças ao acesso do tratamento em tempos de isolamento social pode ser um agravante. “Em período de quarentena, existe uma migração do consumo no bar e restaurante pelo consumo em casa. Este uso é um uso relativamente solitário, o que pode desativar alguns mecanismos de controle que estão presentes quando se usam em grupo e em lugares públicos. A mudança do contexto de consumo pode afetar a experiência e a relação com as substâncias neste período de isolamento. Torna o consumo mais individual do que social, e isso pode ter consequências”, alerta.