A artista plástica baiana Nadia Taquary acabou de retornar à Salvador após ser uma das integrantes do The 55 Project, uma residência artística em Miami, nos Estados Unidos, que culminou numa exposição solo em território americano, onde a escultora pode exibir toda multiculturalidade de suas obras, abordando temas como questões relacionadas à ancestralidade, à importante presença do povo negro na construção do que somos.
Você acabou de chegar de Miami, onde passou temporada de cerca de um mês. Como foi essa experiência?
A experiência em Miami foi uma seleção feita por curadores para o The 55 Project onde o artista convidado do ano passaria três semanas numa residência artística, este ano foi na Bakehouse e que culminaria com uma exposição solo. Foi uma experiência muito rica em diversos aspectos como pesquisa e trocas com maravilhosos artistas de várias nacionalidades e a oportunidade de falar sobre meu trabalho para públicos bastante diferenciados.
Suas obras demostram o sincretismo entre a cultura africana com a cultura colonial, resultando em algo unicamente baiano. Como você o define e o que você aborda?
Meu trabalho trata de questões relacionadas à ancestralidade, à importante presença do povo negro na construção do que somos. O trabalho fala sobre identidade, historicidade, religiosidade e resistência, superação e liberdade.
Além de escultora e artista visual, você também é graduada em Letras e pós-graduda na Escola de Belas Artes da UFBA. Como se dá essa influência acadêmica sobre o seu trabalho?
Desde a infância tive contato direto com a música, teatro, literatura, a minha formação em letras vem da paixão por literatura. Me pós graduei em arte educação pela faculdade de educação da UFBA e sempre trabalhei com arte educação, acho que tudo isso me ajudou muito nos processos e formação do que sou.
A afrobrasilidade é um tema bastante presente em suas obras, especialmente em relação ao legado da cultura negra e sua poética. Após expôr em diversos locais diferentes, qual é o que você gostaria de poder divulgar seu trabalho? Caso países africanos estejam incluídos em seu desejo, como você veria a cultura afrobrasileira sendo levada aos seus “países-mães”?
Cada vez que encontro uma outra cultura e apresento o meu trabalho observo a particularidade cultural trazida pelo trabalho , porém nas questões levantadas através dele, mesmo que historicamente completamente diferentes , sempre se encontram em muitas questões necessárias a se pensar, dialogar e entender antes e na contemporaneidade. Quer estejamos aqui, na França ou nos EUA estas questões urgem por serem ouvidas e entendidos com empatia. E completo: o encontro com a África seria belo pela força que tem um berço que um dia embalou essa história e permitiu deixar seu rico e importante legado apesar de tudo. Reverência e gratidão com certeza caminharam juntos em mim.