Reeleito para continuar à frente da FIEB – Federação das Indústrias da Bahia pelos próximos quatro anos, Ricardo Alban aponta os desafios para o fortalecimento do setor no estado e no país, em entrevista ao jornalista Osvaldo Lyra, para o Jornal A Tarde. Para isso, defende a construção de uma agenda que seja pautada pelo planejamento. “Fazer um planejamento industrial para o Brasil e para a Bahia é fundamental”.
O senhor está à frente da Federação que reúne mais de 40 sindicatos, entidades. Que avaliação o senhor faz hoje do momento que a gente vive da indústria baiana e os impactos da pandemia?
Na verdade, nossa indústria baiana não foi uma exceção do resto da indústria com a pandemia. Nós tivemos aqui até então em 2021… Realmente houve esse agravamento e um desempenho muito pior do que a média nacional em função basicamente de dois pontos muito específicos que foram o fechamento da Ford e, principalmente no ano passado, o menor desempenho da refinaria, pontos que pesaram bastante. Ano passado a gente teve números que mostram o impacto da pandemia sobre o setor.
A indústria baiana conseguiu passar bem por esse período, presidente?
Eu não diria que passou bem porque a gente ficou bem abaixo da média nacional nesses dois últimos anos. Já foi um desempenho não muito bom para a média nacional. Contudo, o que foi verdade para esses dois anos também se torna inversamente verdadeiro para esse ano, ou seja, nós não temos uma base deprimida que foi o ano passado em relação à Ford, e temos agora um reposicionamento da refinaria com a sua venda, onde deverá ter um ímpeto maior. Além de outros projetos que estão andando, de uma certa forma a cadeia produtiva de insumos depois da pandemia tem sofrido uma maior demanda em função de uma série de hiatos que ocorreram em todas as cadeias produtivas. Isso deverá ajudar significativamente a indústria baiana ao longo desse ano, além do que já foi impacto de benefício fiscal. Nós tivemos no ano passado, não só para a Bahia como no Brasil inteiro, o que eu chamo de efeito “boca do jacaré”. No ano passado, os produtos, os insumos cresceram os preços de uma forma bastante exponencial, enquanto a maior parte dos custos em termos de equilíbrio fiscal ficaram congelados somente abaixo de folha de pessoal. Nós tivemos aí pontos crescendo de 40-50% e a arrecadação incide diretamente sobre isso. Isso permitiu esses superávits fiscais que nós temos visto a nível de governo federal e estadual. Eu espero que isso esse ano não seja no ímpeto que foi no ano passado, apesar de que a própria guerra e esse recrudescimento da inflação vão permitir que ainda haja um impacto sobre os preços, e consequentemente uma inflação muito alta. Obviamente isso tudo representa perda de poder aquisitivo, perda da capacidade de consumo, o que poderá impactar de alguma forma no desempenho da economia e do PIB de comércios, de serviços, de indústrias.
A gente tem aí a elevação do preço do combustível, que acaba impactando diretamente sobre o setor produtivo. Que avaliação e qual impacto que isso tem na indústria da Bahia?
Combustível impacta as indústrias de um modo geral, porque na verdade nós podemos dizer que o Brasil está pegando um momento melhor, porque nós temos uma situação hídrica bem mais favorável, que vai permitir que as termoelétricas possam ser desligadas, e com isso não insiram custo maior dos combustíveis sobre a matriz energética, apesar de nós termos uma herança de defasagem de custo dessa matriz energética nesses últimos dois anos por questões hídricas, que provavelmente não vamos sentir tanto no preço esse ano, mas poderia ser agravado se nós tivéssemos ainda demandando mais termoelétricas. Fora o fato de que uma matriz energética é altamente influenciada pelo preço do gás e do petróleo, bem como eles como insumo do setor petroquímico. Esse efeito multiplicador deverá estar acontecendo ao longo de março, abril e maio, vai depender muito de como ficam os preços relativos no mercado internacional e obviamente a extensão dessa guerra. Mas aqui nós estamos acreditando que se essa extensão dessa guerra não for tão longa, ou seja, se ela se resolver ao longo desse mês de março e abril, nós estamos imaginando que ela possa impactar sobre a inflação no Brasil, ela vai impactar no mundo inteiro, entre 1,5% a inflação adicional por conta desses desfechos. Nós estamos vendo um caminho inverso do dólar, essa guerra também tem feito uma desvalorização do dólar no mercado internacional, então nós começamos essa guerra com o dólar em 5,50 e já estamos vendo abaixo de 5,00. Já temos o benefício de indexação da moeda em torno de 10%. Então esse efeito tem ajudado, mas, mesmo assim, com o aumento que temos nas commodities agrícolas, minerais, petróleo, gás, e consequentemente todo encadeamento, nós estamos pressupondo que seria entre 1,5%. Se essa guerra se perpetuar, digamos assim, por um pouco mais de tempo, e que possa se alongar até o meio do ano, segundo semestre, nós não vamos ter o efeito do retorno de algum realinhamento de preço. Então esse efeito de inflamação acumulada poderá superar 2% em termo de adicional à inflação esperada para esse ano no Brasil. E vai afetar o mundo inteiro.
A gente tem números que apontam o investimento da indústria em pesquisa e desenvolvimento, um crescimento de mais de 30% nos últimos anos. Como o senhor avalia e que investimento seria necessário para a indústria baiana alavancar e gerar emprego e renda?
Posso dizer que 30% em cima de 100 é 30, 30% em cima de 1 é 0,3. Então a base é muito sofrível. Falar de 30%, se tivéssemos uma base razoável, seria uma maravilha. Só que nossa base é sofrível de investimentos em tecnologia, em inovação, em pesquisa, em P&D. Tanto a nível de Bahia como a nível de Brasil. Nós temos uma Embrapa com um orçamento de mais de 3 bilhões, e nós temos o EMBRAPII que seria para indústria com um orçamento de cerca de 40-50 milhões. Olha a diferença da base. Então não é o percentual, é a conscientização do que é necessário. É por isso que nós precisamos sentar, nos debruçar e pensar no que é necessário. Nós temos agora um investimento que devemos receber na segunda-feira, que eu preferi ainda não falar, deixei eles mesmos anunciarem, é uma grande multinacional, que temos os maiores investimentos dela na América Latina aqui na Bahia, que vai anunciar um investimento que vai praticamente dobrar o investimento que é realizado aqui na Bahia, e mais uma série de outras intenções que temos. E com isso nós temos muitas outras vontades. Nós precisamos vencer esse ano eleitoral, ter uma noção de quais vão ser as regras do jogo, não só na Bahia, mas também no Brasil, para que a gente possa ter esse norte de segurança jurídica, segurança fiscal, ou seja, toda essa condição para que possamos investir. O que mais existe hoje, no Brasil, mas seguramente também no mundo, são recursos disponíveis buscando “porto seguro para investir”, aquela famosa frase. O mundo está cheio de recursos que precisam encontrar os fundos de investimento, investimentos que lhe sejam bastante atrativos, que possam ter um melhor desempenho para melhorar sua taxa de retorno. Porque a base atual dos fundos hoje está implicada em recursos financeiros e aplicações financeiras que estão rendendo menos que a inflação. Os juros reais do mundo inteiro hoje são negativos. Raríssimos países, talvez a Rússia e o Brasil, já tem a taxa estatística de que o Brasil tem a segunda maior taxa de juros reais do mundo, só perde para a Rússia que está em uma situação de guerra. Então o mundo inteiro, Europa, Estados Unidos, Canadá, China, Japão… Os juros reais são negativos.