David Zuco

Xamã – trapper fala sobre Carnaval, relação com a Bahia e carreira de ator

    Xamã. Foto: Lucas Nogueira

    Considerado um dos artistas mais populares da atualidade, principalmente por sua representatividade na cena do trap nacional, Xamã estará presente na folia de Salvador pelo segundo ano consecutivo. O Bloco do Malvadão, trio sem cordas que desfilará pelo Circuito Dodô (Barra/Ondina) na segunda-feira de Carnaval (12), faz parte de uma grande lista de projetos do cantor e, agora também, ator. Em entrevista exclusiva para o Anota Bahia, o trapper falou sobre o seu processo de entrada na dramaturgia, além da expectativa para o período da maior festa de rua do mundo e sua forte relação com a Bahia, lugar onde considera “como se estivesse em casa”.

    Xamã já se apresentou no estado por diversas oportunidades e possui amizade com alguns grandes nomes baianos do gênero hip-hop, como Baco Exu do Blues e Jaya. Entretanto, foi conversando com Ivete Sangalo, em 2023, durante sua participação no The Masked Singer Brasil, que o artista entendeu mais sobre o Carnaval de Salvador e como deveria se preparar para a maratona no Bloco do Malvadão. “Lembro de trocar uma ideia com ela: ‘E aí Ivete? Como que é esse esquema? Como que a gente sustenta ali?’. Ela foi me falando um pouco sobre as preparações, sobre como ela fazia, já que faz isso há muito tempo. Acho que ela foi a primeira pessoa a me dar dicas assim”, contou o músico. O trapper também relatou suas sensações na ocasião: “Foi muito ‘daora’ poder ter essa experiência porque é sobre tocar no Carnaval da Bahia, que foi um grande sonho, e sobre fazer música, que é a coisa que mais amo. A gente se diverte com a plateia e tem aquela coisa de ser um palco móvel. O palco fica parado na maioria dos shows que a gente faz. Em um palco móvel, poder tocar pra galera, assim, foi uma coisa ‘daora’. Um cansaço grande, mas a sensação de dever cumprido”.

    Apesar da exaustão, a vontade de repetir o momento foi instantânea e imediatamente já surgiram conversas para estar novamente na folia em 2024 – o que se consumou. Sobre a preparação para este grande desafio, Xamã atenta para o cuidado antes, durante e depois da apresentação. Ele mencionou que recebe acompanhamento de uma fonoaudióloga durante as seis horas no circuito e sempre pensa na saúde física e vocal. Além disso, há uma atenção especial para o repertório e pensar no que está no ouvido dos baianos auxilia no processo. “O repertório é baseado em nossas músicas e no que a gente gosta de ouvir também. As pesquisas que a gente faz sempre envolvem o que as pessoas daquele ambiente gostam de ouvir, do que a gente gosta de ouvir e um match sobre essas duas coisas. Com isso a gente vai cantando sucessos dos anos 90, dos trios da Bahia, e a gente também traz um pouco da nossa modernidade do trap, contando a nossa realidade de rua, que é uma coisa muito presente também. A gente pega nossa identidade de cria do Rio de Janeiro, nossa identidade de trapper e leva pro swing da Bahia, para os sucessos da Bahia e das personalidades do estado. A gente faz esse match artístico e musical e faz isso tudo ficar divertido”, revelou.

    Influenciado por diversos intérpretes baianos, como Ivete Sangalo, Caetano Veloso e Gilberto Gil, Xamã busca fazer uma conexão entre Rio de Janeiro, sua cidade natal, e Salvador, capital do estado onde já fez morada por certo tempo. Durante a pandemia, o cantor residiu por cerca de um ano e meio na Península de Maraú, localizada na Costa do Dendê, sul da Bahia. Além desse “lugar muito mágico”, a cidade de Ilhéus foi onde o artista gravou a novela Renascer, no ar pela TV Globo. Entretanto, “o que me aproximou da Bahia foi a música, antes por eu ser um espectador, fã da música baiana e da poesia, e depois poder compartilhar isso, viver isso na parte musical e acompanhar o processo criativo de alguns amigos. Agora nesse momento de [gravações da novela] Renascer, conheci muitos outros amigos de Salvador e uma particularidade que é um lugar onde me sinto em casa, fora do Rio de Janeiro”. Inclusive, seu conforto ao visitar terras baianas pode ser traduzido por sua vontade de jogar futebol em toda sua visita ao estado: “Tem uns amigos que a gente faz uma brincadeira, toda vez que a gente vai, a gente se desafia para um ‘baba’. É muito ‘daora’ porque os caras ganham, às vezes a gente ganha e fica uma provocação. “Fulano, vou fazer show tal dia e vou pra aí tal dia”. […] Parece quintal de casa, porque só se joga futebol quando se está muito à vontade, quando se está em casa. Me adaptei a Bahia, muito pelas pessoas, como a gente é recebido, pelo carinho”.

    A participação em Renascer não será o único trabalho de Xamã no universo da dramaturgia. Além da novela, os filmes Maníaco do Parque, da Prime Video, e Cinco Tipos de Medo, da Downtown Filmes, são outros projetos onde será possível ver o seu trabalho como ator. Para este momento, o artista confessou um desejo antigo de estar neste ramo, mas sua agenda na música atrasou um pouco essa realização e, para estar à frente das telas, ocorreu um longo processo: “Quando chegou o final de 2022, eu me reuni com a minha equipe e a gente construiu um processo de começar a trabalhar com dramaturgia. As preparações foram bastante extensas. Fazemos até hoje, mas no início foram muitas datas de preparação”. Sua primeira aparição nas telas foi interpretando a si mesmo na novela Travessia, da TV Globo, mas logo em seguida surgiu o convite para participar da segunda temporada de Justiça 2, do Globoplay. Manuela Diaz e Gustavo Fernandez, a roteirista e o diretor da série, “me ajudaram muito, tanto na parte de aprendizado quanto na parte de incentivo. Uma série incrível e premiada. Estou entrando na próxima temporada e foi muito ‘daora’. Fiz muitos amigos e peguei muitas dicas com muitas pessoas. Tem uma coisa relacionada a quando você faz o que você ama, tudo parece uma novidade. Você se sente no primeiro dia de aula na escola”, disse empolgado.

    Em Maníaco do Parque, Xamã irá dar vida a um personagem próximo ao protagonista, interpretado por Silvero Pereira. Além disso, será o protagonista de Cinco Tipos de Medo, filme cuiabano dirigido por Bruno Bini. Todas estas produções possuem estreia marcada para 2024 e possuem personagens com muitas camadas. O cantor fez um paralelo desse aspecto com a música brasileira: “Quase todo ouvido do cenário urbano tem muitas camadas também. Ao cantar na rua, você não canta só um estilo musical, você canta para pessoas diferentes, sobre o mesmo assunto, às vezes assuntos diferentes. Às vezes é amor, às vezes é protesto, às vezes é uma contemplação, uma visão assim. Quando você escuta música na rua, você escuta todo tipo de música. O brasileiro não é aquela pessoa de “monoáudio”, que escuta uma pessoa só. Tem um amigo meu que fala desse bagulho: “Você pode ser o roqueiro mais sinistro que for, daqueles rock’n’roll. Com certeza você já ouviu algum hit do Raça Negra”.

    Talvez seja por conta dessa variedade musical presente nas ruas, o motivo de Xamã se sentir tão atraído pelo Carnaval e é esse conceito que será visto por sua passagem na folia baiana: “Não aprendi música numa cadeirinha, em uma sala. Aprendi música na rua. Aprendi arte na rua. Acho que compartilho isso e é por isso que as pessoas entendem bem assim, dessa forma e curtem dessa maneira. O Bloco do Malvadão é sobre isso. É sobre trazer pessoas para me ouvirem, novas pessoas e as pessoas que já me ouvem, e que tem gostos musicais diferentes”. Misturando música e dramaturgia, Xamã pretende mostrar muito mais. “As pessoas que puderam acompanhar o meu processo criativo musical, vão ter a oportunidade de ver os meus personagens durante esse ano. É trazer pessoas para consumir a nossa arte”, finaliza.

    Xamã. Foto: Lucas Nogueira

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