Foto: Noézia Teixeira
Foto: Noézia Teixeira

Em entrevista exclusiva à Coluna Pinga Fogo/Anota Bahia, o deputado federal Zé Neto (PT) fez uma autoavaliação do seu trabalho no Congresso Nacional. O parlamentar também avaliou os governos Bolsonaro, Rui Costa e Colbert Martins, em Feira de Santana, cidade onde é pré-candidato a prefeito.

Confira a entrevista completa:

Vamos começar com uma autoavaliação desse seu primeiro ano no Congresso Nacional. O que há de positivo e de negativo?

Olha, o que é de mais positivo é o trabalho que a gente faz do ponto de vista dessa nova etapa da vida. Eu acho que foi muito positiva a minha ida para Brasília, do ponto de vista político e pessoal. É um novo horizonte da política. Chego em um momento que eu não sei se houve outro momento na história brasileira, recente principalmente, que o Congresso teve tanta importância na vida dos brasileiros. Não só por conta das reformas, como aconteceu com a da previdência e vem agora a tributária, administrativa, mas também pelas decisões do dia-a-dia, especialmente em um momento que nós temos um governo federal totalmente destrambelhado. Esse fato leva o Congresso a ter um protagonista maior. Então eu chego em um momento muita efusivo, muito importante. E do outro lado claro que a gente carrega frustrações de ver o Brasil em um momento onde a maioria do Congresso trabalha pelo desmonte do estado. Diminuição dos potenciais do estado, entrega do seu patrimônio, inclusive indo na contramão do que é feito nos países modernos do mundo, nas economias modernas, e aí isso que a gente vai estar lá fazendo. De um lado feliz porque estamos no front, fazendo o que a gente gosta, mas angustiado porque estamos vendo também muitas coisas que a gente combateu e não estamos conseguindo reverter as perdas, vendo muitos direitos e políticas públicas importantes para sociedade sendo diluídos.

E como deputado federal de oposição, qual a avaliação que Vossa Excelência faz do governo Bolsonaro? De zero a dez, qual nota atribuiria?

Como ainda alguma governabilidade porque o país está andando, existe um Congresso, os três poderes existem, e de uma forma ou de outra ele compõe o processo da democracia, vamos dar 2,5. Mas isso mostra uma desaprovação grande. O governo Bolsonaro não consegue manter de tarde o que falou de manhã. E o pior de tudo isso é que na contramão de tudo que a gente vê no mundo, principalmente esse mundo liberal, esse mundo capitalista que eles se colocam como extrema direita, mas voltados para uma política liberal. Já que eles são liberais deveriam estar protegendo o estado brasileiro e não é o que acontece. Estão entregando a Amazônia, estão entregando a Petrobras, estão entregando o setor energético, estão enfraquecendo o nosso Banco Central, nosso BNDES e o nosso fomento. Encerramos o ano com apenas 0,10 com relação ao PIB de investimento público, quando a média dos países modernos do mundo, principalmente os da OCDE é algo em torno de 3,30. Isso demonstra que nós estamos na contramão do que está sendo feito no mundo e não é por falta de dinheiro, é por falta de direção política. As políticas sociais estão sendo fragilizadas, como o bolsa família, luz para todos, minha casa minha vida, inclusive afetando fortemente toda construção civil no seu conjunto, que é importante gerador de emprego e renda, um setor estratégico para o país. Então a gente pode dizer que essa é a tônica de um governo que com esses balizamentos que foram construídos no ano de 2019, a gente tem só pessimismo pelo que vai acontecer pela frente.

O que Vossa Excelência pensa sobre essa polêmica envolvendo o presidente Bolsonaro e o governador Rui Costa, em torno da operação policial que resultou na morte do Adriano da Nobrega, acusado de chefiar uma milícia no Rio de Janeiro?

Para mim está muito claro. A orientação do Governo do Estado e da Secretaria de Segurança Pública era de tê-lo vivo e fazer com que ele pudesse ser uma peça importante no jogo de um processo penal onde vários atores estão envolvidos. Inclusive, é bom salientar que Adriano não está envolvido na morte da vereadora Marielle Franco, como alguns querem fazer ver. Mas Adriano tem um envolvimento com as milícias do Rio de Janeiro que acabam estando muito entrelaçadas com a família do presidente da república. O que é de se estranhar, e isso não sou eu quem estou dizendo, mas toda imprensa no país inteiro, e os formadores de opinião, é essa preocupação excessiva do presidente em inverter o jogo. Por exemplo, qual seria o sentido do governo baiano, ou da secretaria de segurança, ou do Partido dos Trabalhadores, ou do governador Rui ou de quem quer que seja, queimar um arquivo que era uma fonte de informação importante para elucidar uma situação em que a família do presidente está envolvida? Ao contrário. Nós queríamos ele vivo. Agora, aconteceu um confronto. Nós não sabemos a dimensão disso de forma finalística, mas a informação que chega concreta é de que houve um enfrentamento e no enfrentamento infelizmente ele faleceu. A nossa perícia, muito respeitada a nível nacional pelos profissionais qualificados, apresentou um laudo e eu digo que a gente tem um processo finalístico porque o Judiciário pediu uma outra perícia e vai ser feita. Espero que tudo isso seja muito bem elucidado.

Voltando agora o assunto à Bahia, qual a avaliação do governo Rui Costa? De zero a dez, qual nota atribuiria?

É um governo equilibrado. Em um momento de crise não teríamos outra coisa a não ser dizer que esse caminho que ele trilhou é o único caminho que nós temos com um estado pobre, sendo ainda o 18º em orçamento per capta. Eu estou em Brasília e de lá dá para conhecer o que se passa com Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, e outros e outros estados considerados mais ricos que a Bahia, que não conseguem pagar em dia as suas contas, que não conseguem fazer investimentos públicos, que não conseguem projetos importantes do ponto de vista social. Isso a gente enxerga ao mesmo tempo a Bahia conseguindo pagar as suas contas, a situação financeira do estado equilibrada, consegue manter os seus investimentos públicos que são importantíssimos para o desenvolvimento da economia. São com esses investimentos que o dinheiro circula no estado, chegando para o bem estar social. Na saúde, as policlínicas já são 16 e vamos chegar a mais de 20, hospitais novos construídos e logo estaremos entregando o Clériston Andrade II, em Feira de Santana. A ponte Salvador-Itaparica, que já se tornou realidade, além de outros investimentos importantes por todo estado. Na educação, ultrapassamos o limite de investimentos mais uma vez. Enfim, eu enxergo o governo Rui como um governo exemplar, principalmente do ponto de vista do seu posicionamento com relação ao Nordeste, estando na linha de frente na construção do Consórcio, mostra a liderança que a Bahia tem. Rui que tem sido muito louvado em todo Brasil pela sua capacidade não só de governar, mas de dialogar com todos os setores. Não darei uma nota dez porque ainda temos muito espaço para crescer e estamos crescendo. Eu vou dar uma nota 8,75, porque fazemos um governo aprovado e vamos continuar trabalhando para melhorar a cada dia.

E no plano municipal em Feira de Santana, onde Vossa Excelência se coloca como pré-candidato a prefeito, qual a avaliação da gestão Colbert Martins?

Eu diria que ele, se você me perguntar no popular o que é que ele pegou, eu diria que ele pegou um rabo de foguete. Um governo desgastado. Feira de Santana tem um dos piores transportes coletivos do país, um dos mais caros. Um tecido social altamente esgaçado. Nós temos hoje um centro de abastecimento que nos últimos 20 anos, quando esse grupo esteve no poder, nós vimos um definhamento absurdo daquele espaço que é o espaço que economicamente falando é o mais importante da cidade. O setor informal chega a ser maior do que o setor formal. Na saúde, a gente faz menos cirurgias hoje do que fazia seis anos atrás. Eu diria mais de um terço a menos, quando em verdade deveríamos ter evoluído. A atenção básica, apesar de ter uma boa cobertura, é uma das piores do país em termos estratégicos do país. Enfim, tem muita coisa que precisa ser feita. O centro da cidade hoje é um caos. Eles estão tentando fazer uma reforma no centro, mas também não ouve ninguém. Um governo totalmente sem comando. São vários aspectos que a gente está enxergando lá que dão na cidade um tom de mudança. E a gente chega nesse momento numa eleição que vai ser propositiva. A gente vai ter que trabalhar muito com pé no chão, no corpo a corpo, mas acima de tudo ouvindo a cidade e construindo um projeto que possa apresentar um caminho de soluções.

Apesar de ser seu adversário, qual o peso político do ex-prefeito Zé Ronaldo na eleição?

Ele tem e não tem um peso importante no município. Tem porque conseguiu no curso desses anos se manter no poder e isso lhe deu uma importância no contexto político da cidade. Contudo, ele não construiu outras lideranças. Ele não construiu sucessão.

Quais são os partidos que já estão alinhados ao projeto do PT em Feira de Santana?

Nós estamos conversando com todo mundo. Em todos os campos está todo mundo conversando com todo mundo. Claro que nossa prioridade é conversar com o nosso campo e com nosso campo eu acredito que nós vamos ter uma composição competitiva e uma boa artilharia. Vamos, a partir do carnaval, ativar de forma mais intensa essas conversas. Mas temos conversado muito com o PT, com o Avante. Lá existem outros grupos que estão se reunindo e estamos conversando lateralmente. Essas decisões serão tomadas mais para frente. Março e abril serão dois meses de arrumação.

Qual seria o perfil de vice ideal para composição da chapa?

Não temos o perfil ideal. Nós temos que lembrar de setores empresariais, setores médios da cidade, setores ligados ao campo evangélico. São setores que a gente precisa dialogar mais. Corrigir algumas situações que ficaram no passado e ampliar o nível de diálogo desses setores até porque são setores que a gente teve uma importância grande do ponto de vista da atuação política. A gente tem hoje em Feira de Santana o maior núcleo de saúde do interior do Nordeste sendo construído, especialmente agora com o Clériston Andrade II. E tivemos dificuldade com setor médico na última eleição para presidente. Então, a gente tem que reverter isso porque temos o Hospital da Criança, temos a Policlínica, temos três UPAs, quase quadriplicamos o número de atendimentos do Planserv e ampliamos a rede. E a gente não dialoga bem com setor médico por quê? Não faz sentido. Tem que dialogar bem com o setor da saúde e com setor médico, especificamente. O outro aspecto é com relação aos evangélicos. Ninguém atuou mais na melhoria da qualidade de vida das famílias mais pobres nos municípios do Brasil do que o PT. E de repente eles inventaram mil e uma situações, muitos fakes e a gente não conseguiu estabelecer um diálogo mais direto e mais harmonioso com esse setor que eu acho importante. Portanto, saber qual é o perfil de um vice é um processo também que será construído dentro do grupo político que vai se fechando, que vai se ajustando, e dentro do processo também de observação de onde a gente poderia agregar a uma candidatura campos que sejam importantes e que atendam os interesses de Feira.

Quais são os maiores desafios do próximo prefeito de Feira de Santana?

Ouvir a cidade. Construir com serenidade alternativas de desenvolvimento. Retomar a valorização cultural em vários eventos que a cidade foi esquecendo. Isso cria um processo de perda cultural e econômica, como por exemplo a Micareta de Feira, que foi sempre um movimento econômico importante. A micareta foi ficando para trás e se tornou uma festa muito corriqueiro da cidade e da microrregião, quando já foi uma festa nacional. Isso tem que ser resgatado. O São João da cidade que deixou de atrair investimentos e passou a ser uma festa que ficou cara e mal dimensionada. Uma cultura de cavalo importante e você não consegue fazer um grande evento para atrair o país para Feira de Santana. A nossa exposição também foi esquecida. A cidade cresceu e muitos movimentos precisam ser enxergados. O setor empresarial e o setor do comércio que são grandes vetores de desenvolvimento da cidade nunca tiveram vez na prefeitura do ponto de vista das opiniões serem ouvidas na busca de sintonia para elaboração de projetos para cidade. Os setores da organização social, principalmente os voltados para os distritos, também nunca foram ouvidos. Eu acho que os desafios maiores para alguém que quer governar Feira de Santana é se posicionar como um grande ouvidor das questões da cidade e ser o timoneiro de um processo de construção que passa pela educação, pela saúde, pela cultura, pela indústria e comércio, pelas necessidades que Feira tem para se tornar a metrópole que ela tem que ser.

Para finalizar, qual a mensagem que Vossa Excelência deixa para os baianos e principalmente para os feirenses?

Iniciei a minha vida pública como vereador. Fui quatro vezes deputado e estadual e agora deputado federal. Estou preparado para os desafios. Estive com o presidente Lula essa semana e ele me animou muito para essa caminhada. Cabe a nós, com as autocríticas necessárias, e com a convicção de que podemos fazer a retomada do desenvolvimento do nosso município, entramos em campo para fazer política com convencimento, com argumentos e com projetos consistentes. Faremos esses enfrentamentos buscando sempre a melhoria da qualidade de vida na Bahia e em Feira de Santana.