
O estado de São Paulo está em alerta com a crescente dos casos de intoxicação por metanol em bebidas adulteradas. Já são mais de seis casos de jovens internados e três mortes confirmadas, até a última segunda-feira (29), em decorrência do consumo de bebidas contaminadas com a substância, utilizada na indústria química como matéria-prima para sintetizar produtos. Mesmo em pequenas doses, o composto é altamente prejudicial e pode levar à diversas complicações e à morte.
Segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, a Polícia Federal vai iniciar uma investigação para descobrir a origem do metanol. Já o diretor de comunicação da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF), Rodolpho Heck Ramazzinio, afirmou, em entrevista à TV Brasil, que a substância importada pelo crime organizado, para adulterar combustíveis, pode ter sido redirecionado para distribuidoras de bebidas.
Ramazzinio destaca a Operação Carbono Oculto — que atuou em um esquema de de fraudes em combustíveis — como um dos fatores que desencadearam no uso da substância em bebidas. “Os tanques, que não estavam dentro dos pátios dessas empresas começam a ser desovados em outras empresas. Eles começam a vender isso para empresa química, começam a vender isso também para destilarias clandestinas. Os caras fazem isso para ganhar volume, ganhar a escala, eles não estão nem aí com a saúde de ninguém”, afirmou.
Em nota, a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) manifestou preocupação e solidariedade às vítimas e familiares e que atua fortemente no combate ao mercado ilegal de bebidas e na orientação sobre o cumprimento das exigências técnicas e regulatórias do setor. “A Abrabe reitera o compromisso com a proteção do consumidor e com a defesa do mercado legal, seguro e responsável e seguirá contribuindo com os Governos Federal e Estadual para proteção da população”, disse a instituição.
A fim de mitigar danos e evitar novas intoxicações, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom) e o Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP), divulgaram uma nota técnica destinadas a bares, restaurantes, casas noturnas, mercados e distribuidoras. As entidades apontam que preços muito abaixo do mercado, odor incompatível e o relato de sintomas indesejados são alertas para adulteração. Vale ressaltar, que não é recomendado cheirar e provar as bebidas suspeitas, como ‘testes caseiros’.
As recomendações da Senacom e CNCP envolvem:
- aquisição exclusiva de bebidas por meio de fornecedores formais com CNPJ ativo e regularidade no segmento;
- compra acompanhada de nota fiscal e conferência da chave de segurança nos canais da Receita Federal;
- não recebimento de garrafas com lacre e rolha violados, rótulos desalinhados ou de baixa qualidade, ausência de identificação do fabricante e importador, sem a identificação dos lotes, com numeração repetida ou ilegível;
- realização de medidas de rastreabilidade como dupla checagem.
O Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do estado de São Paulo orienta que os estabelecimentos redobrem a atenção e a população deve priorizar o consumo de bebidas que são de fabricantes legalizados.
Sintomas de intoxicação por metanol
Visão turva, dor de cabeça intensa, náusea, convulsões, tontura e perda de consciência são os principais indicadores de que a substância foi consumida. Nos casos graves, pode levar à cegueira e morte. Geralmente, os sintomas aprecem de 12 a 14 horas após a ingestão e podem remeter a uma indisposição simples, por isso, é importante redobrar a atenção. No corpo, o metanol pode gerar complicações na medula, cérebro, pulmões, rins e fígado. Em caso de suspeitas, é recomendado que busque atendimento médico imediato.
A Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia (ABNO), também publicou um alerta sobre os riscos do consumo do metanol. Em alguns dos casos investigados, as vítimas relatam cegueira temporária ou completa. Além disso, a intoxicação pode levar à neuropatia óptica, doença grave que pode gerar a perda de visão. A entidade ainda aponta que o tratamento deve ser imediato, com acompanhamento médico, e com uso de antídotos, bicarbonato para corrigir a acidez no sangue, vitaminas e hemodiálise.

Receba também as atualizações do Anota Bahia no: Threads, Google Notícias, Twitter, Facebook, Instagram, LinkedIn e Spotify