Ivete Sangalo. Foto: Rafa Mattei.

Ela foi uma das grandes vencedoras do Prêmio Multishow 2020, mas além de ser a maior representante da música baiana na premiação e no cenário musical nacional, protagonizou em 15 minutos um espetáculo digno de um DVD – como daqueles já gravados por ela em Nova York ou na Fonte Nova. Ivete Sangalo, vestida de estrela, ou de modelo de alta costura em Paris – e para falar disso, um viva ao estilista libanês Georges Hobeika e ao stylist brasileiro Marco Gurgel – abriu a sua apresentação entoando a canção “Quando a chuva passar”, com uma projeção do tipo incrível.

A chuva caiu, escadaria abaixo, como acontece a cada estação, nas casas e na vida de inúmeros brasileiros. De pés descalços, e secos, a artista vestida de sol, com joias dignas de realeza, desceu cada degrau, vagarosa, cantando “Localizei”, sua baladinha romântica que celebra o amor. Do topo, chegando ao chão, em uma magnífica e cenográfica troca de figurino, ela ressurge coberta de ouro, com um belo salto alto, para celebrar o encontro da sua voz com Majur, artista também baiana, negra e transexual.

Ivete não precisa ser objeto eleitoral, ativada há cada dois anos, sua voz ecoa onde tem que ecoar e a música diz tudo: é uma “Coisa linda”. As pedras do Castelo Garcia D’ávila, em Praia do Forte, onde ela transmitiu seu espetáculo, porque ela não abre mão de ser fiel a sua Bahia, viraram o cenário oriundo do clipe original, gravado ali do lado, de “Dura na queda”, que ela dirigiu e cantou. E é claro, que como toda brasileira, toda baiana, ela quis dizer ao mundo que “O Farol” não se apagou, e com muitas cores, estilo e óculos escuro, rodeada de dançarinos, devidamente mascarados e protegidos, ela nos lembrou que o azul adormece o dia, todos os dias. 

A artista também veio nos reafirmar que nunca devemos deixar de acreditar no “Tempo de alegria”. E para finalizar, se alguém disse que não haverá carnaval na rua, ela fez questão de chamar os nossos: Brown, Claudia e Durval, para nos lembrar que “O mundo vai”, na rua ou em casa, com um torço na cabeça, um sorriso verdadeiro e um remelexo daqueles, o Brasil compreende a arte e o ofício do baiano em fazer a maior festa popular do planeta. Ah Ivete, se você não existisse, a gente te desenhava com todas as cores que, na verdade, já existem em você.