
Cada vez mais se lançando como compositor, o também cantor e produtor Luã Yvys abriu sua caixa de referências musicais para dar vida ao seu novo álbum ‘Deixei meu coração na Bahia’. Com produção do próprio artista, com Filipe Soares, o trabalho traz 10 faixas autorais, que apesar de o processo de gravação e produção do disco ter durado 18 meses, existem sentimentos e letras guardadas há mais de uma década.
Após ter lançado um projeto com uma pegada mais espiritual e progressiva em 2019 – o álbum ‘Essenímico” –, o cantor decidiu mudar quase que totalmente a cara das suas produções e apresentar um estilo mais centrado no pop e na MPB. Em outras palavras, músicas mais comerciais. Quando se escutam as 10 faixas, isso se confirma e é possível se imaginar ouvindo a voz de Yvys e seu violão em qualquer lugar, como ele mesmo autodefine o projeto: “É um disco para todo mundo cantar junto”.
Quem marca presença em uma das músicas é o cantor e compositor Caetano Veloso, juntamente na ‘Deixei Meu Coração na Bahia’, que dá nome ao álbum. Nos quase dois minutos e meio, Yvys traz uma produção onde o violão é o protagonista, ao lado das vozes dos cantores. A cara da música combina com a participação de Caetano, adicionada aos ritmos percussivos do samba. No entanto, com toda a conexão de Yvys com a Bahia, não esperava o clichê do verso “Terra de Caymmi e Bonfim”. A encaixada dos versos “Caraíva amor, até Salvador, eu vou onde o teu barco for”, em outra música do disco, trouxe uma referência mais inesperada e interessante. Ainda na parceria com Caetano, achei bem pensado o canto mais demorado da palavra “Bahia”, fazendo referência ao sotaque baiano de vogais abertas e à tranquilidade de estar no estado.
Dando uma personalidade diferente para cada faixa do disco, Yvys trouxe para o projeto referências do samba, pop, xote, reggae, instrumentos de corda, metais e alguns singelos toques de R&B. No geral, sempre há a preocupação de colocar vários estilos e figuras em uma mesma produção. O violão e o “clima de pôr-do-sol” das músicas fazem as ligações entre elas ficarem aparentes. Com exceção de ‘Duvido’ e ‘Fica Aqui’, que possuem um clima mais reflexivo e relaxante, as demais canções trazem um balanço mais animado.
Os destaques do novo álbum de Yvys estão em ‘Pra Acalmar Seu Coração’, com um xote bem ajeitado com o acordeom e o violino se conversando, enquanto os intervalos entre os acordes geram um movimento. ‘Ao Seu Dispor’ traz um evidente reggae que fica ainda mais envolvente quando os metais entram para deixar a música mais cheia. ‘Filho de Iemanjá’ foi a primeira do setlist a trazer o reggae com a atuação bem viva da harmonia dos metais. A combinação desses dois ritmos é algo que foi muito bem feito pelo cantor e compositor.
A música ‘Ainda Tenho Asas’ foi originalmente composta por Yvys para a sua mãe, Elba Ramalho. Neste trabalho, ele resolve dar uma repaginada com um tom mais para frente, mais animado. O xote também fica bem claro na composição, com o acordeom, mas aparece também uma guitarra fazendo umas pontuações que trazem um ar mais pop.
O novo álbum de Luã Yvys entrega uma boa mistura de ritmos e músicas com seu próprio estilo. O cantor afirma que o público vai identificar com as referências das músicas. “De fato, quando ouvi as faixas, pude perceber um som parecido com o de Vitor Kley, Tiago Iorc, Melim e outros artistas que seguem esse viés”. Como ele mesmo disse, quis que o trabalho fosse mais pop, mais aberto ao público e mais comercial – características que ele conseguiu trazer bem.
*coluna ‘Unplugged’, escrita pelo jornalista Luís Guimarães

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