Trabalhando em parceria no setor educacional e sempre promovendo a busca por mais conhecimento, as irmãs Cândida Muzzio e Maria Clara Coelho são gestoras do Colégio Miró, em Salvador, e seus exemplos devem servir de inspiração para alunos, pais e demais pessoas, por conta de suas posições de liderança, tanto no âmbito pedagógico quanto no administrativo. Além disso, a visão delas acerca do crescimento feminino no setor empresarial é otimista e a sinergia entre as mulheres baianas são destaque. “Eu tenho visto a força feminina crescer muito no processo de empresariar e com uma força de coragem, de conhecimento, de buscar se articular com outras mulheres. Tenho visto também um processo de se amparar, de segurar uma na mão da outra, desde as que são maiores ajudando as menores, as menores se ajudando entre si, então vejo esse movimento da Bahia bastante crescente” comenta Cândida.
A participação da mulher no mercado de trabalho vem crescendo e rompendo paradigmas existentes há muito tempo. Apesar disso, ainda há alguns caminhos para serem superados. “A gente precisa superar essa ideia de que a mulher não pode estar em alguns postos que são ‘evidentemente’ masculinos”, destaca Maria Clara, que também é pesquisadora pela Universidade Federal da Bahia e está no processo de realização de seu doutorado. Apesar do número forte de mulheres professoras, ainda assim há uma diferença no âmbito acadêmico: “A mulher professora não era pesquisadora. O lugar de ‘professor pesquisador’ estava endereçado quase exclusivamente aos homens. Então está neste lugar de quem produz ciência, escreve, publica e produz conhecimento científico sendo mulher, eu acho que esse sim é um ponto de avanço que temos para a mulher, abrindo espaço para que tenhamos mais mulheres cientistas, que produzem ciência”, exalta Maria Clara, que tem bastante orgulho de estar neste percurso.
Com sua experiência em educação parental, Cândida comentou sobre observar “as mulheres buscando oferecer uma educação, uma maternagem com mais qualidade, buscando entender mais, buscando estudar, buscando desconstruir ideias de culpa que só atrapalham a relação entre mãe e filho, buscando criar redes de apoio, buscando construir uma relação mais estreita com a escola, buscando processos terapêuticos para entender o processo de desenvolvimento subjetivo e emocional de suas crianças”. Além disso, a importância dos homens na criação de seus pequenos também foi mencionada e a mudança de um cenário ocupado apenas por mães está sendo notada: “As mulheres vem buscando dar espaço também para que os homens assumam seu lugar de pais, sem elas ficarem querendo ocupar todos os espaços e entendendo que pai precisa exercer essa função e mãe também. Não é fácil ainda para as mulheres, mas eu vejo um movimento, por exemplo, dos pais indo mais as reuniões da escola, dos pais participando do processo de crescimento das crianças”. Um grupo de estudos, gerido por Cândida, sobre Disciplina Positiva será realizado com o objetivo de que pais e mães venham a aprofundar seus conhecimentos sobre a parentalidade.
A busca pelo conhecimento e pensamento crítico também é defendida por Cândida, que já desenvolveu algumas atividades endereçadas para o público feminino, como um Clube do Livro, cogerido por Manoela Andrade. Tais práticas são enxergadas como uma forma de fortalecimento entre mulheres e a gestora falou sobre o fomento em atividades culturais, onde elas possam “ler um livro e se encontrar pra conversar sobre ele, seja para que possam ir aos museus juntas, a uma peça de teatro juntas, ao cinema juntas, que elas possam se encontrar, assistir um filme e discutir. Isso vai transformando a relação da mulher no seu próprio processo de educar e maternar, porque na medida que ela tem tempo pra ela e ela amplia a visão dela de mundo, isso cresce, toma outras formas, vira um mosaico”. Parte desse incentivo pode ser visualizado com atividades realizadas pelo Colégio Miró, como o apoio à Festa das Mulheres na Literatura (FLIMINA), realizado no Caixa Cultural Salvador durante o mês de março, além de um clube de leitura na instituição de ensino, com a parceria de Laura Guimarães, mãe de um dos alunos.
As irmãs visualizam uma necessidade em comum, para as mulheres presentes nas primeiras etapas profissionais e dão um conselho bastante importante: “Abram espaço para que possamos nos fortalecer. Seja um espaço terapêutico, seja um espaço com outras mulheres. Crie espaços para que você possa dar a mão para outras mulheres e abra situações para que outras mulheres te ajudem a ter força. E ter força significa compartilhar conhecimento, compartilhar experiências, acreditando no seu potencial”, reflete Cândida. Além disso, Maria Clara salienta a necessidade de acreditar em si mesma e apoiar outras mulheres, sempre buscando conhecimento sobre sua área de atuação: “À medida que se capacita e demonstra que pode fazer bem aquele ofício, aquilo que você escolheu, isso vai desconstruindo essa lógica de que somente homem faz melhor do que a mulher poderia fazer. Eu vejo esse movimento importante de capacitação e investimento na sua formação como uma trilha decisiva para que a gente possa desconstruir essa lógica de preconceito com o lugar da mulher no mercado de trabalho”, finaliza.
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