Ex-gestores municipais de Salvador. Foto: Reprodução.

Salvador faz 472 anos hoje e comemorará o aniversário em meio ao agravamento da pandemia da Covid-19 no Brasil inteiro, com aumento no número de mortes e alta na demanda por Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em todo o estado.

Um ano duro, difícil, atípico, sem carnaval e todas as festas e eventos que compõem o cenário natural de Salvador. As ruas, antes cheias, pulsando vida, estão vazias, e a cidade, que é comumente associada à alegria, espera, em silêncio e com muito trabalho, a pandemia passar.

Embora o momento não seja animador como Salvador merece, o A Tarde escutou ex-prefeitos da capital baiana e quis saber, de cada um, a resposta para uma pergunta, no mínimo, emblemática: “Se você fosse prefeito de Salvador nos dias de hoje, que presente pensaria em dar para a cidade?”.

Grande parte das respostas, apesar de variarem, tiveram um eixo em comum: o combate à pandemia para que a cidade volte ao normal. Confira:

JOÃO HENRIQUE

João Henrique. Foto: Reprodução.

“Diante do momento atual, dessa pandemia da Covid-19, o presente que eu gostaria que Salvador recebesse de Deus, através de suas autoridades, seria vacinação imediata e rápida para toda as faixas etárias da população. Uma vacinação eficiente, rápida, na velocidade que a cidade precisa, para que as famílias voltem às suas vidas. Hoje é muito triste ver tantas pessoas desempregadas, ambulantes que não conseguem uma renda no final do dia, pessoas passando fome, famílias nas periferias comendo na casa dos vizinhos porque em casa não tem comida, essa situação de drama seria o objeto de um presente urgente: vacinação urgente e eficiente para toda a população. Paralelo a isso, pleno emprego para todo mundo na cidade, e que os ambulantes possam voltar a trabalhar o mais rápido possível, porque hoje estamos vivendo um dilema na cidade e no País: escolher morrer de fome ou de Covid-19. A gente não esperava isso, foi algo completamente inédito, uma coisa dramática, e que tá levando muitas pessoas a ter apenas essas duas opções. É um quadro desesperador, a economia da cidade e do brasil, com PIB negativo, pessoas em casa deprimidas – a quantidade de pessoas deprimidas triplicou de um ano para cá no País. O presente hoje que a cidade precisaria era esse, por conta do contexto histórico, de pandemia. Se tivéssemos em outro momento, claro que eu desejaria outras coisas para Salvador, mas neste momento, o que atinge a todos nós, independente de raça, de credo, de posição social, independente de tudo, é a pandemia”.

ANTONIO IMBASSAHY

Antonio Imbassahy. Foto: Reprodução.

“O presente universal, desejado por todas as pessoas, é a vacinação em massa. Ela é a base de qualquer outro desejo, iniciativa ou obra que nossa cidade precise. Vacina é vida e saúde. É a certeza de que recuperaremos nossa economia e os empregos. Até alcançarmos a imunidade coletiva, os presentes que precisamos são paciência, disciplina e solidariedade. Paciência para aguentar o distanciamento, a saudade e a falta de abraços. Disciplina para usar máscaras e evitar aglomerações. E solidariedade para ajudarmos uns aos outros, com tratamento digno nos hospitais e comida na mesa. Depois disso, o povo de Salvador é quem dará presentes ao Brasil e ao mundo, restaurando a alegria de viver, embalando o cotidiano com música, encantando com suas atrações turísticas, seduzindo pelo paladar da rica gastronomia e envolvendo pelo calor, generosidade e fé das pessoas. Nesse aniversário, meu desejo é por esperança”.

LÍDICE DA MATA

Lídice da Mata. Foto: Reprodução.

“Se eu fosse prefeita de Salvador, daria quatro presentes neste aniversário de 472 anos: vacinação em massa, embora ainda estejamos dependendo do Ministério da Saúde; auxílio-emergencial para a parcela mais vulnerável da população; um plano de retomada do desenvolvimento econômico; e um plano municipal de habitação. A nossa cidade avançou muito em diversas questões urbanísticas e até mesmo social nos últimos anos, com investimentos dos governos federal, estadual e municipal, mas ainda há uma enorme desigualdade, sobretudo no acesso da população a direitos básicos como os da educação, moradia, transporte e o principal deles: emprego, uma vez que a cidade tem uma das maiores taxas de desocupados do País, algo em torno de 17%. Já em relação à habitação, a capital baiana também possui um alto déficit. Por isso, talvez seja tão complexo escolher que presente dar a essa cidade mãe, tão amada por todos. Entretanto, eu ainda sonho com dias melhores para o município e também para o seu povo, que é guerreiro e trabalhador”.

MÁRIO KERTÉSZ

Mario Kertész. Foto: Reprodução.

“O melhor presente para a cidade, hoje, seria fazer um movimento amplo de todas as correntes e pensamentos políticos para transformar Salvador em uma cidade-exemplo para o Brasil no combate à pandemia; e assim liberar seu povo para ter uma vida normal. Isso porque, para mim, o fundamental agora é tentar juntar os negacionistas e os não-negacionistas em um único propósito, o de salvar vidas. Nada mais é importante para a cidade hoje do que isso. É uma tarefa muito difícil, mas não é impossível”.

EDVALDO BRITO

Edvaldo Brito. Foto: Reprodução.

“Daria a execução de um plano de gestão destinado a transformar Salvador em uma cidade inclusiva e para todas as estações climáticas. Inclusiva porque Salvador continua a receber investimentos para o bem-estar social, sempre, nas mesmas áreas urbanas. Os melhores equipamentos materiais são propiciados nas áreas nobres; bem assim, os instrumentos de promoção social: creches, escolas, bibliotecas, hospitais etc. Quando fui prefeito, de 19 de agosto de 1978 a 7 de abril de 1979, portanto, 7 meses e 20 dias, construí, nas áreas pobres, duas bibliotecas públicas – “Edgard Santos”, em Itapagipe e “Denise Tavares”, na Liberdade – e concentrei nessa áreas a construção de salas de aula e de unidades médico-odontológicas, pensando na ascensão social dos menos favorecidos economicamente. Cidade para todas as estações climáticas porque Salvador caracteriza-se, ainda hoje, como uma cidade de verão: quando chove, continua uma cidade de alagamentos. Fiz a drenagem da chama bacia do Comércio, colhendo as águas de chuva que descem pela ladeira da Montanha, canalizando-as para o mar, através da rua Santos Dumont e despejando-as no cais da Praça Cairu; aquelas que descem do Taboão e que inundavam o prédio da Associação Comercial, despejando-as na área do porto. Concluí a drenagem do Rio das Tripas que passa sob o leito da Baixa dos Sapateiros, desde a Barroquinha até o Aquidabã; a Manoel Dias da Silva, na Pituba… fiz várias drenagens. São obras sem placas de inauguração, que somente os jornais da época registraram, como o editorial do A TARDE, datado de 14 de março de 1979”.