Cor dos Olhos. Foto: Igor Barbosa

Com a ruptura da formação original da banda Selvagens à Procura de Lei — do dia para a noite — os músicos Caio Evangelista, Rafa Martins e Nicholas Magalhães fizeram jus a expressão “renascer das cinzas” e lançaram suas primeiras produções com o novo projeto: Cor dos Olhos.

Os EPs ‘Cor dos Olhos – Pt.1’ e ‘Cor dos Olhos – Pt.2’, lançados na primeira quinzena de maio, trazem a essência já conhecida que o trio de Fortaleza ressoava nos anos de Selvagens, enquanto uma nova identidade se forma com a chegada de influências e experimentações. É possível perceber claramente que o entrosamento dos três instrumentistas une a personalidade de cada um. Não à toa, os três também dividem os vocais em cada uma das três músicas.

O Rock e as influências do indie/alternativo se mantém presente nos dois lançamentos. No Pt.1, essa linguagem fica bem presente com as pausas, breakdowns e as colocações de efeitos bem arquitetadas. Até mesmo nas faixas mais animadas, a banda apresenta um clima ‘relax’ e ‘balançante’ que acompanha letras que falam de amor, autoaceitação, calmaria e propõe reflexões. Em ‘A Curva’, é a faixa no primeiro EP que a experimentação toma conta. Enquanto Caio e Rafa dividem os vocais, samples percussivos se misturam com a bateria; os efeitos e pausas mudam as dinâmicas da música, mantendo quem escuta imersos. Consigo enxergar lapsos de Tame Impala, mas não ao ponto de você dizer: ‘nossa, estavam escutando Tame Impala’.

A faixa ‘Nuvens Brancas’, já no Pt.2, traz um ar mais intimista no que parece ser um testemunho do trio sobre os desentendimentos e renascimento que marcaram o processo que os desembocaram no novo projeto. Os versos “Não tem espaço pra dar o laço, no fio que rola solto pelo cansaço” e “Prepara o barco e apressa o passo. Conta comigo pro que vier” traz voz a aceitação de que algo deixou de ter sentido e o início de um novo sentido com os valores que restaram. Essa foi a minha grande surpresa em ambos os EPs. A primeira faixa de Pt.2 soa como um desabafo e a ratificação de um novo caminho a ser trilhado.

‘Fé Em Que?’ faz mais uma vez boa utilização das trocas de textura e alternância de intensidade para fazer as transições entre versos e refrões, trazendo uma harmonia que surpreende quem espera por padrões e uma construção quadrada da música. Tudo encaixado e bem redondinho, enquanto aborda as frustrações presentes no dia a dia e relacionamentos. O lançamento é fechado com uma pegada mais pop e radiofônica em ‘Símbolo Infinito’, com uma letra cativante sobre recomeços e companhias.

Caio, Rafa e Nikão trazem excelentes linguagens adquiridas na época de Selvagens, com muito do que foi escutado principalmente no último lançamento enquanto faziam parte do grupo (‘Paraíso Portatil’, 2019). A mistura do rock com indie, a colaboração e a complementação do trio entre si trazem um trabalho sólido e com identidade. A Cor dos Olhos reabriu seu próprio caminho e tem em sua frente uma trilha com diversas oportunidades, que começou já com o pé direito de quem tem experiência no mercado musical.

*coluna ‘Unplugged’, escrita pelo jornalista Luís Guimarães

Luís Guimarães. Foto: Acervo Pessoal

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