Uma pesquisa realizada pela Organização Quilombo Aéreo, em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mostrou que não há mulheres negras trabalhando como piloto em companhias aéreas nacionais. Em 2022, haviam apenas 992 mulheres atuantes em companhias aéreas, apenas 2,3% dos trabalhadores na função. Já entre os comissários de bordo, 66% são mulheres, mas apenas cerca de 5% do total de profissionais são pessoas negras.
O estudo realizou entrevistas com trabalhadoras e ex-trabalhadoras negras do setor e há comissárias de bordo e pilotas formadas que não estão atuando no momento. Para permanecer nas funções, existem barreiras como a falta de representatividade, nível de cobrança, negação do corpo negro, não aceitação do cabelo crespo, saúde mental/laboral, machismo e assédio. A pesquisa também apontou dificuldades para adentrar o setor da aviação civil nacional: custo da formação profissional, falta de informações sobre a carreira e de representatividade de outras mulheres negras processos seletivos desiguais e não aceitação dos corpos negros.
“Já sabíamos aproximadamente desses dados, o registro científico desses números foi uma constatação. Então, para as pesquisadoras do Quilombo Aéreo não foi nenhuma surpresa, mas é uma surpresa para sociedade e, também, para as companhias aéreas, que não olhavam para esses números até um ano atrás”, disse Laiara Amorim, idealizadora do coletivo.
Segundo a coordenadora do Grupo de Pesquisa Gênero, Raça e Interseccionalidades no Turismo (GRITus), da UFSCar, Natália Oliveira, o corpo negro incomoda e é rejeitado. “Olhando para o cabelo da mulher negra, por exemplo, identificamos profissionais negras que foram barradas em processos seletivos, porque estavam com seus cabelos naturais soltos nas entrevistas de emprego. É explícito como essas mulheres não são selecionadas, mesmo tendo um currículo bem qualificado ou até melhor que outras candidatas brancas”, afirma.
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