Bell Marques é daqueles poucos artistas que, se quiser, pode cruzar o circuito Barra/Ondina, sem repetir uma só música do seu repertório. É também impressionante o seu vigor. Ele comanda blocos durante todos os dias no Carnaval de Salvador e em alguns destes mesmos dias, se apresenta em camarotes localizados no corredor da folia. A história de Bell se confunde com a da música baiana e muito do seu teor saiu justamente dos seus acordes. Casado com Aninha Marques há 42 anos, pai dos também músicos Rafa e Pipo Marques, ele também representa uma instituição familiar que é referência de companheirismo. Nesta entrevista exclusiva ao Anota Bahia, discorremos com o artista sobre suas expectativas para a volta do Carnaval – que aconteceu pela última vez em 2020. Falamos sobre a rotina de preparação, sua participação nas micaretas pelo país e também sobre a ideia de lançar um novo bloco.
“A minha expectativa para o Carnaval está gigante, até porque, no meu caso, o Carnaval faz parte da minha vida. Eram mais de 40 anos tocando sem interrupção e sempre foi um grande projeto pra mim e pra minha família. Eu sempre toquei o ano todo, me preparando de alguma forma pro Carnaval e ficar dois anos sem ele foi bem complicado. Estou feliz e ansioso, mas consciente da responsabilidade que tantos foliões estão colocando nas minhas mãos”, reflete Bell sobre essa retomada da folia. Perguntamos ao cantor sobre sua participação em todas as grandes micaretas que ocorrem pelo Brasil. “Sem dúvida é um grande esquenta. Todas as micaretas nasceram como carnavais fora de época. Elas são uma extensão do Carnaval, que acaba sendo o objetivo principal dos artistas, dada a dimensão que a festa tem. Então, a gente aproveita as micaretas e eventos, como o Festival de Verão, por exemplo, para testar músicas, sentir a reação do público, é muito interessante”, analisa.
Já à frente dos blocos Vumbora (sexta e sábado) e Camaleão (domingo, segunda e terça), Bell teve a ideia de lançar o Bloco da Quinta, que irá abrir seus dias de folia. “A ideia nasceu da minha cabeça que não para e do desejo que eu tinha de criar um projeto voltado para a quinta-feira, que fosse uma opção para o baiano, que muitas vezes acaba deixando a cidade, mas quer curtir ali um dia antes disso, antes da grande maioria dos turistas chegarem. É claro que todo mundo é bem-vindo nele, mas nasceu como um projeto especial assim, muito voltado para o primeiro dia oficial do Carnaval”, revela ele. E por falar em bloco, Bell mesmo antes do Carnaval chegar, já tem alguns dias de abadás esgotados e comenta sobre. “É muito gratificante, é uma demonstração de carinho dos foliões comigo. Ao mesmo tempo, como disse antes, é uma grande responsabilidade. Porque entendo que as pessoas estão contando comigo para fazer o Carnaval delas valer a pena, ser bom e ficar na memória”.
Por mais que idade não seja um fator que deva ser relevante, vale registrar que o cantor tem 70 anos, e com isso, buscamos entender sobre sua preparação física para o decorrer da folia. “Assim como funciona com repertório, que a gente não deixa pra testar no dia do Carnaval, o preparo físico é constante, a gente vem cuidando de tudo o ano inteiro, numa rotina já natural pra mim. Quanto mais perto do Carnaval, na verdade, menos intensos são os exercícios, porque diminui o risco de lesão num momento que é importante. Mas, o preparo, ele já está feito, então, é manter a rotina leve, a hidratação e a alimentação”, nos disse. Além dos blocos que já citamos, Bell também vai se apresentar nos camarotes Club, Salvador e Brahma, e ele fala sobre essa diferença entre se apresentar no trio elétrico e nos espaços reservados. “A diferença principalmente é a imprevisibilidade do circuito e o tempo de duração. No circuito de rua, muita coisa pode acontecer, como um trio quebrar na sua frente. E você tem que estar preparado fisicamente, mentalmente e tecnicamente para enfrentar de 4 a 6 horas num dia normal. Já toquei 9 horas, por exemplo”, lembra. Por fim, Bell Marques fala sobre o que o público pode esperar dele nesse grande Carnaval de 2023: “De mim, o folião pode esperar a melhor das energias. Assim como ele, vou subir naquele trio com saudade e sede de Carnaval”, conclui.